A cidade chinesa de Wuhan, a capital da província de Hubei, saltou para as bocas do mundo e capas dos jornais em finais de Dezembro por causa de um então desconhecido surto de uma doença respiratória que escassas semanas depois estaria a transformar a vida de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, obrigando o Governo de Pequim amandar fechar as portas e manter 11 milhões de pessoas no seu interior para estancar a progressão da infecção.

E essa clausura imposta como medida radical de contenção da pandemia a 23 de Janeiro, que seria reproduzida, logo de seguida noutras cidades de Hubei, depois da China continental, e posteriormente no resto do mundo, como foi o caso de Angola, com o estado de emergência, a 27 de Março até 11 de Abril, com provável extensão por mais duas semanas, pelo menos, só agora está a ser levantada.

Ouvidos pelos media chineses, a resposta dos agora "libertados" cidadãos de Wuhan tende a ser muito semelhante, sublinhando a necessidade do sacrifício para recuperar agora a normalidade, derrotando o novo coronavírus responsável pela Covid-19, mas, ao mesmo tempo, mostrando uma visível satisfação e alívio por já ter passado o pior, com as ruas e avenidas da cidade a voltarem a ser palco da azafama natural de uma megacidade como é esta.

Para a história, Wuhan fica claramente como a cidade onde primeiro as duras medidas para controlar a epidemia foram aplicadas, mas também a cidade onde mais de 50 mil pessoas foram infectadas e cerca de 2.500, 80% do total de mortos no país, morreram por causa do vírus que, oficialmente, num mercado de animais vivos, terá conseguido passar para a espécie humana a partir de um morcego e de um pangolim.

E, quando a Covid-19, provocada pelo vírus que começou por ser conhecido como "Vírus de Whuan", parou de matar na China, no resto do mundo já fez mais vítimas em cinco países, EUA, Itália, Espanha, Alemanha e França que entre os 1,3 mil milhões de chineses, por exemplo, nos Estados Unidos já são mais de 400 mil, com quase 13 mil mortos, 2 mil só nas últimas 24 horas, mais de metade do total de mortos em território chinês em 3 meses.

Mas na Itália, entre os 135 mil casos, há mais de 17 mil mortos, na Espanha já são 14.500 em 146 mil infecções, e mesmo em França, com 110 mil casos, mais de 10.300 fatalidades, enquanto em Portugal, país de onde chegaram a esmagadora maioria dos casos positivos detectados em Angola, já são mas de 13 mil doentes com 380 mortes ocorridas.

Em Whuan, enquanto no resto do mundo se apertam os estados de emergência, as comunidades se fecham para conseguirem erradicar o vírus, as economias estão soterradas por imposição dos Estados, os seus cidadãos começam a relatar aos jornalistas que chegam à cidade o gosto que têm por saberem que estão a horas ou dias de reencontrarem as suas famílias mantidas à distância pelas medidas draconianas contra a pandemia assumidas pelo Governo de Pequim.

"Eu vou ver os meus familiares", disse, citado pela Reuters, Wang Wenshu, uma residente em Whuan, enquanto aguardava pelo seu voo no aeroporto de Tianhe, que serve esta metrópole, acrescentando o peso da saudade como quase insuportável, pedindo mesmo ao repórter para parar de fazer perguntas para não de "desmanchar em lágrimas".

E, com este lento despertar da vida em Whuan, onde, apesar de tudo, as pessoas ainda são aconselhadas a viajar apenas se isso for imprescindível, também a economia começa a ganhar novas "cores", depois de um forte abanão que, a partir da segunda maior economia mundial, "infectou" o resto do mundo, provocando problemas sérios em todo o lado, desde o galopante desemprego, queda nas bolsas, derrocada no petróleo, com Angola na linha da frente das principais vítimas.

Isto, porque ainda se teme que uma segunda vaga da infecção possa emergir, como reconhece o vice-governador de Hubei, Cao GUangjin, citado ainda pela Reuters. "Temos muito cuidado, não podemos relaxar e não declaramos ainda vitória total sobre a doença. Temos de nos manter calmos e ser tão atentos como no início", afirmou.

Mas isso não significa que se tenha voltado a ver as luzes das montras nos maior centro comercial da cidade ou nas suas ruas comerciais, como é o caso do do Rio Chu ou a Rua Hans, com, apesar de tudo, e ainda, as longas filas, tal como sucede em Angola, no seus supermercados, porque ainda está a ser observada a distancia social de um metro, mas por todo o lado, como que a adivinhar como será noutras partes do mundo, as danças e a actividade desportiva maquilham a cidade disfarçando o peso do sofrimento por que passou nos últimos meses.

E tudo isto, porque as infecções locais pararam há mais de três semanas, tendo sido apenas observadas três referentes a pessoas que chegaram do estrangeiro.

E, tal como em Whuan, também no resto da China se celebra o fim do "encarceramento" desta cidade que ficou como símbolo do que viria a ser este início de ano dramático que, recorde-se, coincidiu com o Ano Novo Lunar, a maior e mais importante festa chinesa, que obrigou milhões de pessoas a não fazerem as tradicionais deslocações à sua terá natal ou a regressarem destas apenas muitas semanas depois, como sucedeu com uma boa parte da comunidade chinesa residente em Angola.

Nas estações de caminhos-de-ferro, onde, no imaginário colectivo ocidental, a partida das carruagens é sinal de nostalgia, ali, na recém-libertada Whuan, as janelas dos comboios repletas de pessoas - mais de 55 mil, uma boa parte destes surpreendida com o fecho das porás, deixaram por esta via a cidade - vai ficar na memória colectiva local como uma imagem de festa da vitória do esforço chinês contra o inimigo nº 1 da humanidade, o novo coronavírus que provoca a Covid-19, que já infectou mais de 1.440 mil pessoas em todo o mundo, dos quais 83 mil não resistiram, mas com mais de 300 mil a recuperarem na totalidade .