Num vídeo que já soma milhares de visualizações nas redes sociais, o também empresário e membro do Comité Central do MPLA não poupa críticas ao subprocurador da República que anunciou, na semana passada, a constituição do general Nunda como arguido.

"Um civil qualquer já anuncia detenção de general, já anuncia general arguido, não pode ser assim", diz Kangamba, que também aponta o dedo às "pessoas que lhe mandaram".

"Eu não conheço, não sei quem é, mas se falou aquilo dentro da comunicação social, se chamou a conferência de imprensa para falar dos arguidos, ele foi mandado. Mas as pessoas que lhe mandaram tinham de lhe preparar", diz o general na reserva, para quem "não podemos funcionar assim".

"Conforme explicou vê-se que tem raiva dos generais, tem raiva das pessoas", continua Kangamba na mensagem, aproveitando ainda para partilhar o seu entendimento do poder.

"Não podemos confundir: uma coisa é a governação - quem governa são os ministros, os secretários de Estado -, outra coisa é o poder. O poder é segurado pelas Forças Armadas, pelos políticos", distingue, sem explicar porque não inclui os ministros e secretários de Estado na categoria de políticos.

Mais do que contestar a forma como a PGR notificou o general Nunda, Kangamba associa esse processo a planos de desestabilização de Angola.

"As pessoas querem criar um problema dentro do país, querem mostrar que estão a trabalhar bem, que eles é que vão endireitar o país, que a Justiça está 100%, que a democracia está 100%, tudo está 100%", assinala o empresário, deixando transparecer o seu desagrado em relação à liderança de João Lourenço.

Mesmo sem mencionar o nome do Presidente da República, o general assume-se como um 'eduardista' convicto, manifestando que será "fiel a José Eduardo dos Santos e ao MPLA até ao fim".

PGR reconheceu erro na notificação de Nunda

Antes de Bento Kangamba, outras vozes do meio militar se insurgiram contra a notificação do general Nunda pela PGR.

"O país entrou num descrédito total", considerou o General G. Sapalo, num texto partilhado nas redes sociais, em reacção à notícia da constituição como arguido do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas.

Segundo Sapalo, este processo ficou manchado pela "falta de respeito e reconhecimento pelos feitos, lealdade, honra e valores éticos e morais" do general Nunda.

Recorde-se que a divulgação do nome de Nunda como arguido no caso da tentativa de burla ao estado de 50 mil milhões USD, aconteceu antes da sua notificação, algo que foi assumido como um erro pelo Procurador-Geral da República.

Em declarações aos jornalistas, na semana passada, em Luanda, Hélder Pitta Grós reconheceu que a PGR "devia" ter informado o general Sachipengo Nunda "no local próprio e no sítio certo", o que não foi feito.

"Somos seres humanos e estamos agora numa nova situação e estamos todos a aprender", apontou Pitta Grós, sublinhando a importância aprender com os erros.