Até hoje não se sabe quantas pessoas morreram entre os trabalhadores da Cotonang, empresa de capitais essencialmente belgas, que cultivava intensamente algodão na Baixa de Cassanje, empregando milhares de trabalhadores, mas aos que morreram foi agora erguido um monumento no local onde foram enterrados muitos deles, em Kunda-dia-Base.

A chamada revolta da Baixa de Cassange, que aconteceu um mês antes do mais conhecido 4 de Fevereiro, quando ocorreu o assalto às cadeias de Luanda, por forças comummente ligadas ao MPLA, de acordo com vários historiadores, foi palco de alguns dos mais importantes momentos históricos no período de luta pela independência angolana, como, por exemplo, o primeiro registo de emprego da aviação colonial para reprimir a revolta dos trabalhadores da Cotonang.

Mas foi também, segundo os registos históricos, a primeira vez que, em larga escala, forças políticas do vizinho Congo, cuja independência tinha acabado de ser alcançada, intervieram em Angola no apoio à revolta contra o poder colonial português, recorrendo inclusive a crenças religiosas animistas ou sincréticas, naquilo que ficou conhecido pelo "culto de Maria", através do qual os camponeses eram convencidos de que as balas dos brancos não matavam negros, ganhando assim uma especial coragem para a revolta.

Esta revolta acabou reprimida com grande violência pelo exército colonial, tendo recorrido, numa das suas primeiras utilizações em Angola, ao napalm projectado a partir da aviação, que, na época, com mais frequência utilizava os PV-2 Harpoon para bombardear o "inimigo".

São essas centenas, para alguns historiadores, milhares para outros, e escassas dezenas no registo oficial colonial, que são agora homenageados em Kunda-Dia-Base com um monumento onde, desde 1961 estão enterrados algumas das primeiras vítimas das forças coloniais na repressão a sublevações com carácter político.

Tendo em conta a importância desta data na história da luta pela independência de Angola, as autoridades locais têm como objectivo aproveitar esta efeméride, quando passam 54 anos da criação do município de Kunda-dia-Base, para promover a região como atracção turística, não só como palco da primeira revolta em território angolano contra o poder colonial, mas também porque consideram que ali existem outros pontos de interesse culturais e paisagísticos.

Outro dos objectivos é a atracção de investimento para a região, que, como se sabe, até pela história algodoeira da "baixa", tem grande potencial agrícola.

A Baixa de Cassanje compreende as aldeias de Cambo Sunginge, Zungue, Kanzage, Wholo dia Coxi, Santa Comba, Mulundo, Teca dia Kinda, Xandel, Moma, Iongo Milando e Massango (Forte República) nos municípios de Cahombo, Marimba, Kunda-dia-Baee e Quela.