O director Provincial do SIC-Luanda, subcomissário Amaro Neto, numa conferência de imprensa marcada para falar especificamente deste caso que agitou a sociedade angolana, adiantou que as diligências realizadas pelo SIC e pela Polícia Nacional afastam a possibilidade de a funcionária da Endiama, no momento do crime, a 26 de Outubro deste ano, e antiga apresentadora da TPA, ter sido morta, juntamente com o jovem que a acompanhava, por assassinos contratados.

"Durante as diligências e investigações que fizemos, averiguamos que não houve mandante para este crime", explicou o oficial, acrescentando que os meliantes assaltaram o veículo da jornalista sem saber de quem se tratava.

"Eles assaltaram a Beatriz Fernandes, sem saber quem ela era. O propósito destes militantes, após o assalto, passaria por vender a viatura e enviar os valores para a República Democrática do Congo (RDC)", declarou.

Em documento divulgado também hoje pelo SIC, o roubo da viatura ocorreu depois de o grupo de cinco assaltantes, todos originários da RDC, à excepção de um angolano, ter roubado outra viatura a um cidadão português na qual se fizeram transportar até encontrarem uma viatura apropriada para ser vendida mais tarde no país vizinho.

Durante o assalto, que passou por ficcionar um toque na viatura onde seguiam as vítimas, na Av. Deolinda Rodrigues, em Luanda, o grupo não se apercebeu da existência de duas crianças no banco de trás, nem da sua mãe, circunstância que só perceberam depois de terem neutralizado o motorista, Jomance Muxito.

O responsável salientou no entanto que durante os inquéritos aos homicidas confesso, estes admitiram que Beatriz Fernandes foi abusada sexualmente por três dos elementos momentos antes do seu assassinato.

"Os marginais confessaram que violaram a senhora antes de a terem assassinado", aponta, acrescentando que devido às torturas Beatriz Fernandes e Jomance Muxito foram obrigados a ceder às exigências dos marginais.

"A vítima e seu parceiro foram obrigados a ceder todas as ameaças dos meliantes devido às fortes torturas a que ambos foram submetidos", disse

Amaro Neto afirmou ainda que os marginais declararam que antes de terem feito disparado sobre as vítimas "houve uma ligeira briga entre os meliantes", porque dois elementos do grupo não queriam que executassem a jornalista nem o seu parceiro.

"O único jovem de nacionalidade angolana que está entre os detidos garantiu, durante os interrogatórios, que os seus comparsas brigaram porque dois deles não estavam a favor de assassinar o casal", descreveu o director do SIC.

Dos quatro congoleses detidos, dois têm cadastro na polícia, incluindo o angolano, constando nos registos roubo qualificado com recurso a rama de fogo, e os restantes três deixaram o país

O dia fatídico

Aquando do roubo da viatura de Beatriz Fernandes, depois de se terem apossado desta, o grupo ainda se deslocou ao Palanca, bairro habitado por uma importante comunidade congolesa, e só depois, por volta das 03:00, dirigiram-se ao km 30, perto de Viana, ainda com as duas crianças, filhos de Beatriz, a bordo.

Já no interior de uma mata, e longe de quaisquer possibilidade de serem vistos e onde seria difícil os tiros serem sentidos, depois de diversas sevícias e torturas, dispararam cinco balas nas duas vítimas.

Foi já depois do duplo homicídio que os assassinos abandonaram as duas crianças na Via Expressa, à saída do km 30, onde viriam a ser encontradas e levadas para uma esquadra da polícia..

As detenções ocorreram depois de, já no dia 28 de Outubro, e sempre de acordo com informações divulgadas pelo SIC, os indivíduos a quem a viatura foi entregue para posterior venda, terem sido detectados próximo do Palanca.

Neste seguimento, os agentes do SIC detiveram Ambrósio Kitoco, de 25 anos , Ndeku Nzinga, 25, Lando Bicokisila, 35, e Makalo Lubanza, 53 anos, todos naturais da RDC, e Marciano Pedro Eduardo, 29, angolano, como autores confessos, mas com julgamento por realizar, do crime.

Na operação policial foram ainda encontradas quatro viaturas, uma arma de fogo de tipo Kalashnikov e telemóveis na posse do gangue.

Apesar destas detenções, o SIC informa ainda que as investigações não cessaram e estão em curso outras diligências para ""esclarecimento total do crime".