As agressões ocorreram este fim-de-semana, no Domingo de manhã, e, segundo a versão dos acontecimentos relatada pela Polícia de Segurança Pública (PSP), as agressões tiveram como razão inicial o arremesso de pedras por parte de um homem de 32 anos, de naturalidade angolana, aos agentes que se deslocaram ao bairro Jamaica.

Esta versão é, no entanto, desmentida pela família Coxi, que garante que os agentes da PSP já chegaram ao bairro com uma clara predisposição para a agressão sem que sejam conhecidos os motivos.

Para averiguar o que se passou de forma "cabal", o comando da PSP de Lisboa já anunciou que foi aberto um inquérito interno.

Segundo os relatos da imprensa portuguesa, as agressões policiais começaram quando, no Domingo de manhã, no momento em que decorria uma festa familiar de aniversário, surgiram desacatos entre um grupo de mulheres e a polícia foi chamada a intervir, tendo deslocado para este bairro, conhecido pela sua precária situação social, uma patrulha.

Na versão da família, os agentes da PSP, depois de terem ficado dentro dos carros por algum tempo, sem qualquer intervenção face aos desacatos entre os moradores, nem fizeram perguntas e partiram logo para a agressão.

O entendimento da polícia é outro: a patrulha foi simplesmente recebida com o arremesso de pedras e que a força utilizada foi a "estritamente necessária" para lidar com a situação com que os agentes se depararam.

O resultado foi que vários membros da família Coxi tiveram de receber tratamento hospitalar, enquanto o relato da PSP aponta para um ferido entre os agentes da Brigada de Intervenção Rápida, que se deslocaram ao bairro, em resultado de ter sido atingido por uma pedra na boca.

Pelo menos seis pessoas deram entrada no Hospital Garcia da Horta, no Seixal, e o indivíduo que arremessou a pedra foi detido.

Em reacção a este caso, cuja dimensão foi exponenciada pela captura de imagens em vídeo e com a sua dispersão através das redes sociais, a organização portuguesa SOS Racismo considerou como "inaceitável" o que se passou no bairro Jamaica e garantiu que vai acompanhar de perto esta situação e as suas tramitações.

A SOS Racismo, a mais dinâmica organização anti-racismo em Portugal, informou ainda que vai apresentar uma queixa ao Ministério Público por causa das "agressões absolutamente injustificáveis e inaceitáveis".

O bairro Jamaica, urbanização que começou a ser erguida há mais de 30 anos, no Seixal, periferia de Lisboa, mas que ficou por acabar, foi tomada por centenas de famílias, na sua maioria, oriundas das ex-colónias portuguesas em África.

Tornou-se uma das áreas degradadas mais conhecidas da Grande Lisboa, tanto pelos bons exemplos de projectos sociais como pelo índice de criminalidade.

São mais de 1300 pessoas que ali vivem, embora já estejam a decorrer processo de transferência para casas sociais construídas para estas famílias.

O risco de ocorrer ali uma tragédia é já assumido por todos, até porque os prédios foram sendo transformados pelos moradores, colocando mais divisões nos prédios, bem como se foi acentuando a degradação das fundações dos edifícios, alagadas quase em permanência por falta de sistema de escoamento de águas ou saneamento básico.