Aos angolanos que usam, geralmente e na sua maioria Portugal (Lisboa ou Porto) como porta de entrada na Europa, a saída do Reino Unido acarretará mais constrangimentos dos que já aguentam actualmente. Deixamos de poder usar Portugal - ou a França, se for por via do TGV -, como franquia para um mundo que alguns de nós estão habituados, seja a nível académico, seja - sublinhe-se - a nível de utilização de serviços de saúde britânicos.

Também a nível africano, os países membros da Commonwealth - ao contrário do que se verifica com a grande maioria dos países da CPLP que não o têm com Portugal - ao abrigo desta comunidade, que ficam, actualmente, com quase livre acesso aos estados-membros da UE, deixam de o poder fazer.

Também a nível financeiro e económico, as trocas de bens e serviços que se fazem com o Reino Unido através de outros parceiros da UE com quem tenhamos alguns acordos preferenciais deixam de poder ser enviados por esta via o que poderá encarecer as nossas exportações e importações devido às "novas" taxas a serem aplicadas pelos britânicos. Ou talvez, para reduzirem um eventual impacto de uma eventual saída da EU, os britânicos, numa primeira fase, e para aqueles com quem mantêm acordos preferenciais ou trocas mais interessantes e importantes poderão manter as taxas alfandegárias mais baixas. Mas serão de pouca duração.

De facto não será só a Europa a sofrer, mais que os britânicos, que sempre se sentiram um porta-aviões que controla os "desmandos" europeus ao longo dos séculos e que sempre se sentiram a última estância de defesa das liberdades no continente europeu - veja-se a duas grandes guerras do século XX - os efeitos desta hipotética saída (Leave) da União Europeia

Note-se que no domingo, 26 de Junho, o Reino de Espanha (e é deliberado este sublinhar do "Reino" porque um dos candidatos, a coligação Podemos/Esquerda Unida, admite avançar com uma referendo sobre a Catalunha) vai a votos, pela segunda vez em poucos meses, onde se digladiam duas concepções sobre a forma como Espanha deve se comportar face às exigências da UE/Bruxelas.

De um lado, conservadores, liberais e socialistas próximos dos actuais critérios da União Europeia, do outro, a coligação, que poderá vencer ou condicionar ainda mais a governação de Madrid, a criticar e a exigir reformulação nas relações com Bruxelas e com a União Europeia.

Também em Itália, há um movimento "5 Estrelas (M5S)" que vem condicionando a política europeísta italiana - venceu, recentemente, duas importantes eleições autárquicas (Roma e Turim) e já tinha sido um dos principais vencedores das eleições parlamentares italianas - apela à ruptura política do actual "political stablishment" quer em Itália, quer com a União Europeia - a Itália para os italianos e o estabelecimento da "democracia directa", incluindo via Internet. Recorde-se que a Grécia, com a eleição do movimento Syriza, foi o primeiro país da União Europeia a contestar, fortemente - ainda que tenha vindo a recuar nesta sua posição - as políticas europeístas de Bruxelas, Estrasburgo e Frankfurt.

Veremos o que terá ditado o dia de ontem e como este decidirá sobre domingo! Não esqueçamos que uma vitória do "Leave" - Brexit - poderá (terá) ter impacto na nossa economia e no modo de vida de uns quantos de nós.

*Investigador e Pós-doutorando