Apontado como "país de origem e destino" do tráfico de homens, mulheres e crianças, na sua maioria sujeitos a trabalhos forçados, mas também a exploração sexual, Angola ainda "não cumpre os requisitos mínimos para eliminar o tráfico de seres humanos", conclui o documento.

Apesar de reconhecer que o Governo "está a realizar esforços significativos" para combater o fenómeno, apontando como exemplo a introdução, em 2014, de leis específicas de luta contra o branqueamento de capitais, o departamento de Estado dos EUA assinala que o Executivo "nunca condenou ninguém por tráfico de seres humanos com base nessas regras".

Em causa está a Lei da Criminalização das Infracções Subjacentes ao Branqueamento de Capitais e a Lei Reguladora das Revistas, Buscas e Apreensões.

Debruçando-se sobre as principais transgressões angolanas em matéria de tráfico de seres humanos, o Relatório Global indica que "meninas de 13 anos são vítimas de exploração sexual", e alerta para a iniciação de crianças, por adultos, no mundo do crime.

"Como as crianças não podem ser criminalmente acusadas, há adultos a obrigá-las a realizar actividades criminosas", lê-se no documento.

Segundo o relatório, "as províncias de Luanda, Benguela, Cunene, Namibe, Zaire e Uíge são as mais vulneráveis" a este tipo de criminalidade.

"Rapazes angolanos são enviados para a Namíbia para realizarem trabalhos forçados nomeadamente de pastoreio de gado, da mesma forma que são obrigados a contrabandear mercadorias", aponta o relatório.

Para além das crianças, também as mulheres surgem como alvos preferenciais do tráfico, muitas vezes apanhadas por redes de prostituição.

"As mulheres angolanas e as crianças são sujeitas a escravidão doméstica e a tráfico sexual, tendo como destino a África do Sul, a Namíbia e países europeus, como Holanda e Portugal", enquanto Angola recebe trabalhadoras sexuais do Vietname, da China e do Brasil, assinala a análise norte-americana.

Os maus indicadores apontam também o dedo à acção de "gangues chineses e empresas de construção", que recrutam chinesas sob falsas promessas de emprego. "Uma vez no país, são privadas dos seus passaportes, "presas" em complexos vigiados por guardas e obrigadas a prostituírem-se para pagarem os custos da viagem".

Os abusos estendem-se a operários da construção civil - onde se incluem asiáticos, namibianos, brasileiros, quenianos e possivelmente congoleses -, que serão alvo de "ameaças de violência e privação de alimentos".

Para ajudar a travar esta realidade, o departamento de Estado norte-americano recomenda o reforço da fiscalização e da formação dos magistrados, "ainda pouco familiarizados com as leis de combate ao branqueamento de capitais".

Embora estas normas surjam muitas vezes associadas apenas à banca e ao mundo dos negócios 'puro e duro', o relatório lembra que o tráfico de pessoas anda de mãos dadas com o branqueamento de capitais.