Mais ainda, conquistaria sem dúvida alguns pontos na consideração quer de militantes quer da população em geral, por integrar uma lista do seu partido, demonstrando que coloca acima de tudo o partido de que é militante desde muito jovem, o que é bem mais importante do que as retóricas que apontem para supostas "inferioridades" que resultariam de ser o número três.

Nada mais absurdo, nada mais longe da realidade, nada mais demonstrativo do profundo fosso que separa alguns desses "ideólogos" da realidade sociológica angolana. A admissão natural de que se trata de um militante que cumpriu o papel para que foi indicado pelos seus e que, pelas razões mais do que conhecidas e anunciadas, retorna à condição de militante é uma demonstração de grandeza, de personalidade e de obediência aos ideais do seu partido, que é pertença de milhões de militantes e simpatizantes e não propriedade exclusiva de quem entende pertencer à classe dos "escolhidos", como se falássemos de "senhores" e de "vassalos". Mais um tiro no pé. Mais um mau conselho dado ao Presidente José Eduardo dos Santos.

O Novo Jornal errou ainda ao pressupor, por todas as razões e mais algumas, que Fernando da Piedade Dias dos Santos surgiria como o quarto integrante da lista. Suposição errada, da qual nos penitenciamos, embora não consigamos ainda explicar as razões por que o actual Presidente da Assembleia Nacional (e futuro, caso o MPLA ganhe as eleições) aparece em décimo primeiro lugar.

Um novo factor a ter em conta é a posição tornada pública pela deputada e actual presidente da 7.ª comissão (Saúde, Família, Juventude, Desportos, Antigos Combatentes e Acção Social), Irene Alexandra da Silva Neto, filha do primeiro Presidente da República Popular de Angola, Agostinho Neto, que explica as razões da sua recusa em aceitar integrar a nova lista de candidatos a deputados.

Não é de agora que insistimos - enquanto angolanos interessados na evolução multidisciplinar do processo político angolano que se torna essencial - para o aprofundamento democrático e para a normalização das condições que permitam finalmente o arranque económico definitivo, a recuperação de valores cívicos e morais e uma atenção crucial à educação e ao ensino, que o MPLA retorne à sua condição de movimento aglutinador de todas as classes sociais.

Sem a predominância dos que entre a política, a justiça, os negócios públicos e privados não podem hoje em dia ser definidos - sejam políticos no activo, sejam juízes, magistrados, o que hoje se chama de pessoas politicamente expostas - como políticos no sentido absoluto do termo. Equilibrando - o que foi sempre difícil mas possível - a presença de cidadãos com o conhecimento real e não enciclopédico das condições de vida das populações com a intelectualidade realmente patriota, progressista e que, ao longo da história do movimento,

sempre procurou estar ao lado do povo. À época chamava-se "opção de classe". Alguns ainda se lembrarão de tal expressão...

Quando uma figura com o percurso de Irene Neto toma a posição que hoje se noticia, é evidente que algo está errado em toda esta estratégia. A proliferação de agentes activos da burguesia dominante, a permanência de figuras que se autodenominam intelectuais e cuja fronteira com a lumpen-burguesia é por demais evidente, o recurso a gente com muitas provas já dadas de pouco sentido patriótico, de demasiado interesse na autopromoção e no aproveitamento da condição de deputados para resolverem a sua vida, não é saudável, não é aconselhável nem prudente e muito menos ajuda a recuperar o reconhecimento do MPLA enquanto intérprete das grandes franjas sociais que integram a comunidade angolana.

"Resolver os problemas do Povo", condição essencial dos últimos discursos do Fundador da República, não é um mero chavão para adormecer consciências. É a correspondência verbal de um projecto efectivo de reconstrução nacional, baseada nos princípios fundamentais que levaram à constituição do MPLA. "Volvamos à realidade, sonhadores"!