A venda de combustível nas ruas e nas residências do Palanca e do Kassequel está a gerar forte preocupação nos moradores porque o negócio é realizado sem cumprir as mínimas normas de segurança e o perigo de incêndios está sempre presente.

Os bombeiros, em conjunto com as autoridades policiais, têm realizado trabalho no terreno, seja, como explica Faustino Miguês, porta-voz do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros de Luanda, para sensibilizar vendedores e clientes para os perigos que correm, ou quando as autoridades vão para o terreno para aplicar coimas aos infractores.

Isto, porque, adiantou Miguês, já não é a primeira vez que nestes estabelecimentos ocorrem incêndios com a perda de vidas humanas, porque a grande massa de combustível armazenada em alguns deles "dificulta muito" o trabalho dos bombeiros e faz aumentar o risco para as populações dos bairros onde estão localizados.

O Novo Jornal deu uma volta nos bairros do Palanca e Kassequel e constatou a preocupação por parte dos residentes, que se queixam sobretudo do risco de incêndio que a presença de milhares de litros de gasolina e gasóleo constitui 24 horas por dia.

Ana Gonçalves, moradora da rua E do distrito do Palanca, foi uma das moradoras que admitiu ao Novo Jornal estar sempre com medo de que algo de grave aconteça.

"Não é a primeira vez que acontece um incêndio numa residência de comerciante de produtos inflamáveis. Já enviamos cartas à administração distrital para a resolução do problema, mas não tivemos resposta", lamentou.

Com o passar dos anos, as pessoas vão-se habituando a ver perto das suas casas os bidões cheios de combustível e a forma artesanal como é feita a venda, directamente para os carros e motas ou para vasilhame mais pequeno, deixando sempre escorrer combustível para o chão.

Com o hábito, como contaram alguns moradores, vai-se perdendo a noção do perigo e só quando algum acidente ocorre é que as pessoas ganham consciência do verdadeiro risco em que incorrem diariamente.

"Já fizemos várias denúncias à polícia, mas não ouve nenhuma solução. Esta situação parece normal, mas é bastante grave", disse ainda Ana Gonçalves.

No Palanca, a revenda de combustível está essencialmente concentrada nas ruas A e E e G, que, ao mesmo tempo, são as mais frequentadas e onde o trânsito é mais intenso, circulando por elas, diariamente muitos milhares de pessoas.

Grande parte deste combustível é vendido a motoristas que preferem gastar um pouco mais por litro de gasolina ou gasóleo do que andar alguns quilómetros até ao posto de abastecimento ou preferem evitar entra nas vias principais por causa dos engarrafamentos.

O caso do Kassequel

No distrito do Kassequel, a realidade é semelhante, concretamente na rua 56 do Kassequel do Buraco, próximo das casas da Teixeira Duarte, e entre o bairro Popular e o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.

Papa Moninga, de nacionalidade congolesa, tal como grande parte dos vendedores de lubrificantes e combustíveis no Kassequel e no Palanca, disse ao Novo Jornal que exerce a actividade desde que veio para Angola, há 10 anos.

A maior parte destes comerciantes estão na venda de combustíveis para sustentarem as famílias e porque não têm alternativas de trabalho, embora a maioria dos vendedores esteja consciente que a sua actividade não está isenta de riscos, tanto para si como para quem os rodeia.

"Faço este negócio há mais dez anos, desde que cheguei do Congo e não tenho outra fonte de rendimento para o sustento da minha família", explicou Papa Moninga, que, apesar de saber que o seu negócio decorre à margem da lei, garante que só vende combustível que adquire nos postos oficiais para não perder os clientes por causa da má qualidade do gasóleo ou da gasolina.

O que ganham, depende da decisão de cada um para estabelecer o preço, que pode variar se se trata de clientes conhecidos ou novos compradores.

Bombeiros receiam o pior

A questão essencial é a segurança das populações que habitam estas áreas da cidade de Luanda, bem como os que ali se deslocam diariamente. O Novo Jornal procurou contactar, sem sucesso, as administrações dos distritos do Palanca e do Kassequel.

No entanto, a maior parte dos municípios de Luanda elaborou circulares a proibir a venda ambulante de combustíveis e, como é o caso de Viana, a polícia recebeu orientações para estreitar a malha sobre esta actividade ilegal.

Para o serviço de Protecção Civil e Bombeiros de Luanda a questão é "dramática" porque o risco de incêndio e explosão "é permanente", tendo em conta que estas lojas improvisadas, quase todas ilegais, não apresentam as "garantias mínimas para o aprovisionamento de combustíveis".

"Alguns destes estabelecimentos têm armazenadas grandes quantidades de gasolina, gasóleo e lubrificantes, tudo material altamente inflamável e de enorme perigosidade para todos os envolvidos, especialmente para as populações dos bairros em que se situam", apontou.

Essa a razão pela qual, complementa Faustino Miguês, os bombeiros, em conjunto com as autoridades policiais, de fiscalização ou mesmo de investigação criminal (SIC), se têm desdobrado em deslocações a estes locais, em campanhas de sensibilização, mas também para punir os infractores.

"Apesar de não ocorrerem com muita frequência, os incêndios e as explosões nestes depósitos ilegais acontecem e quando assim é, há sempre perda de vidas. Porque sabemos disto, os bombeiros estão sempre no terreno a fazer o seu trabalho", afirmou. Admitindo, contudo, que este é um trabalho "difícil de concluir com sucesso".

Actividade que vem de outros tempos

Em Luanda, bem como nas restantes províncias, esta é uma actividade com origem em tempos onde os postos de abastecimento eram escassos e o combustível rareava, especialmente no tempo da guerra, sendo, por isso, usual o recurso aos vendedores de beira de estrada.

Ao longo das estradas do país, apesar de ainda subsistirem locais de venda de combustível paralela, estas situações vão rareando à medida que as bombas oficiais se vão multiplicando, como é disso exemplo a Estrada Nacional 100, entre Luanda e Benguela, a mais concorrida do país, onde hoje existem dezenas de postos de abastecimento quando há 10 anos só existiam dentro das cidades atravessadas pela via.