Esta declaração, que a oposição rapidamente considerou de incendiárias, podem por em causa o acordo assinado em Dezembro de 2016, quando o país estava prestes a entrar numa nova fase de violência por causa da continuidade no poder do Presidente Kabila depois de ter constitucionalmente terminado, a 20 desse mês, o seu segundo e último mandato permitido por lei.

O acordo de Dezembro, entre a Maioria Presidencial (MP), de Joseph Kabila, e a oposição, contou, ao contrário do anterior, de Outubro, com o recentemente falecido líder da oposição e da UDPS, Etienne Tshisekedi, aceitando integrar o compromisso depois de o Chefe de Estado se ter comprometido a não avançar para um terceiro mandato, só possível com uma alteração à Constituição.

Com a participação alargada da oposição, as hipóteses de viabilidade deste acordo ser bem sucedido aumentaram, gerando um clima de abertura com o claro baixar da tensão no país.

Agora, com esta afirmação do ministro das Finanças, Pierre Kangudia Mbayi, o processo pode ter voltado ao ponto zero, onde tudo é possível, inclusive a erupção de novos confrontos entre a polícia e militantes dos partidos da oposição, que exigem eleições este ano e a saída de cena de Kabila.

Recorde-se que em Janeiro de 2015, e em Setembro e Dezembro do ano passado, a RDC viveu momentos de grande violência, sempre por causa da obstinação de Joseph Kabila em se manter no poder, como é o caso dos episódios de Janeiro de 2015, que surgiram depois do Presidente ter dito que queria alterar a Constituição para se poder candidatar pela terceira vez.

Agora, com a admissão da possibilidade de não haver eleições, apesar de Pierre Kangudia Mbayi ter afirmando que não estava a garantir que não vão acontecer, apenas que não vai conseguir o dinheiro para as realizar, a oposição volta a exigir garantias de que o processo eleitoral será concluído em 2017 e de que Kabila não estará na lista de candidatos.

Christophe Lutundula, membro da plataforma da oposição, disse, citado pela imprensa congolesa, que o Governo de Kabila "não tem qualquer vontade de realizar as eleições", como o demonstram as palavras do ministro das Finanças.

"Mas isso não nos surpreende, porque sabemos disso - que o Governo não quer eleições - há muito tempo e foi também essa a razão pela qual fizemos questão de o acordo ser supervisionado pela Conferência Episcopal (da RDC)", afirmou este elemento da oposição.

ONU, UA e UE com receio do futuro

Perante este cenário, várias organizações internacionais, com destaque para as Nações Unidas, a União Africana e a União Europeia, manifestaram hoje sérias preocupações sobre o impasse na aplicação do acordo de 31 de Dezembro.

Num documento hoje divulgado, estas organizações afirmam a sua "crescente preocupação pelo persistente impasse no diálogo entre as partes do campo político na RDC sobre as modalidades de aplicação do acordo político de 31 de Dezembro".

E deixam um aviso às partes, Governo e oposição, para a necessidade de garantirem a sua boa-fé no processo, porque, neste cenário, " existe o risco de comprometer a vontade política que permitiu a assinatura do acordo".