Cerca de cinco meses depois do prometido, a União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC-SA) continua sem «tirar do papel» o projecto que pretendia pôr os músicos e os actores angolanos a actuar nas carruagens dos comboios que circulam pelo País, no quadro de um acordo celebrado com as empresas responsáveis pelos caminhos-de-ferro.

Anunciada em Março, sob denominação de Comboio do Artista, a iniciativa deveria ter início em Maio, com actuações (música e teatro) que se realizassem durante um trajecto.

Por exemplo, normalmente, as locomotivas do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes partem de Moçâmedes (no Namibe), passando pela Bibala (na Huíla) até chegarem ao Kuando-Kubango. E, para este caso, os artistas de Moçâmedes deveriam cobrir o trajecto até à fronteira com a Huíla e, a partir daí, entrariam os artistas da Huíla que prosseguiriam com o espectáculo até à província seguinte, onde os músicos e actores locais se encarregariam de dar sequência ao show.

«Estamos à procura do melhor momento para o arranque»

Quase sete meses depois daquela entrevista de Março, em que confirmava ao Novo Jornal o início do projecto para dentro de dois meses, o presidente da comissão directiva da UNAC-SA, Zeca Moreno, justifica-se com os "muitos constrangimentos" resultantes da Covid-19, assim como com a "criação de condições" por parte dos núcleos da UNAC-SA afectos às províncias a serem abrangidas pela iniciativa.

"O projecto ainda não arrancou porque as províncias estão, neste momento, em preparação [definindo] os artistas e a procura do melhor momento para o arranque do projecto", revela, acrescentando que a realização "ainda não tem uma data efectiva", em face das negociações que as províncias vão fazendo não só com as empresas responsáveis pelos caminhos-de-ferro como também com os potenciais artistas a estarem envolvidos nos espectáculos.

Sem revelar valores, mas adiantando já que tudo se fará de acordo com a "actual situação económica do País", Zeca Moreno explicou que os envolvidos no Comboio do Artista terão um cachet "mínimo".

Voltando a sublinhar que o objectivo "não é ganhar tudo de uma só vez", o presidente da comissão directiva da UNAC-SA esclareceu que o pagamento aos artistas será suportado pelas empresas responsáveis pelos caminhos-de-ferro, pelo que, voltou a recordar, os cachets deverão ser "módicos", com vista a estarem compatíveis com os recursos que advêm da venda de bilhetes de passagem dos comboios. O responsável garantiu, igualmente, que as actuações "não vão ter impacto" no preço dos bilhetes dos comboios.

Os avanços de Benguela e Huíla

Nalgumas das províncias por onde passará o Comboio do Artista, já há aquilo a que se poderia chamar de «prenúncio de fumo branco», a julgar pelas declarações de Jaime Neves da Costa (Tiviné), representante da UNAC-SA em Benguela.

"Neste momento, os trovadores e os actores já têm as músicas feitas e as peças montadas, sendo que apenas falta definir com os responsáveis dos caminhos-de-ferro a forma como os artistas se farão presente nos comboios, sem pôr em causa as regras de prevenção contra a Covid-19", assegurou.

Já Serafim Afonso, responsável da UNAC-SA no Sul do País, garante que, na província da Huíla, por exemplo, "já estão encetados todos os contactos", estando o processo "bastante avançado", com a confirmação da presença de artistas como o músico local Quim Pátria e os grupos de teatro Estrelas da Huíla e Candimbas de Santa Cecília.

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