Nos dois primeiros leilões sujeitos às novas regras de flutuação cambial, o Kwanza derrapou face ao Euro, que é a nova referência cambial para a moeda angolana e a partir do qual são definido0s os câmbios do restante cabaz de moedas, incluindo o dólar norte-americano, 10 e 16 por cento.

Depois desta perda alargada do Kwanza para com a moeda europeia, o BNA mostrou alguns sinais de alarme, sendo o mais evidente o cancelamento de dois leilões no mesmo dia, a 18 deste mês, porque a desvalorização seria de mais 10 por cento, pelo menos.

Foi então que a seguir a um encontro de emergência com os bancos comerciais, o BNA definiu um novo conjunto de regras que passaram a vigorar a 23, implicando que a banda de flutuação imposta inicialmente tenha sido reajustada para permitir perdas - ou ganhos, embora essa possibilidade não seja minimamente equacionada nas actuais circunstâncias - de apenas dois por cento em cada leilão.

E foi já com essas novas regras que o Kwanza, no passado dia 23, cedeu mais dois por cento face à moeda europeia, passando de 26 para 28 por cento de desvalorização, ou depreciação na terminologia do BNA, ficando a escassos dois por cento do valor estimado por diversos analistas, incluindo os da Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de análise económica da revista britânica The Economist, que antes da alteração ao regime de flutuação cambial, apontavam para uma perda entre os 20 e os 30 por cento.

Na última sequência de licitações pelos bancos comerciais, em leilão realizado a 23, o Euro foi fixado nos 253,7 Kwanzas (venda) e o dólar nos 207 (venda).

Com um leilão, pelo menos, semanal, que tem sido realizado às terças-feiras, esta é a semana em que o Kwanza vai atingir os 30 por cento de perda face à moeda do bloco económico europeu que assumiu o Euro.

Isto, porque a depreciação de 2 por cento é já um dado adquirido face ao apetite demonstrado pelos bancos comerciais pelas escassas divisas em disputa colocadas pelo BNA para licitação, mas que agora estão confinados à flutuação máxima de dois por cento.

Consequências: especulação galopa, BNA desdramatiza

Uma das consequências desta nova política cambial foi o aumento generalizado dos preços, como o Novo Jornal Online noticiou logo aos primeiros sinais disso, que, nos últimos dias levou a que os serviços de fiscalização fossem para o terreno procurando conter a evolução dramática dos preços.

Face a este problema, o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, defendeu, na Assembleia Nacional, questionado pelos deputados na sessão plenária do passado dia 18, quando se discutiu e votou o OGE 2018, que as reformas que estão a ser implementadas pelo Executivo no domínio financeiro vão permitir proteger melhor a economia tornando-a mais competitiva.

Admitindo, contudo, que este processo trará "grandes constrangimentos", numa primeira fase, Massano entende que os esforços são necessários para que o país se possa ajustar "ao novo contexto da economia, num ambiente já conhecido como o novo normal" e que o exercício que está a ser feito visa "proteger a economia, a sociedade e ao mesmo tempo faz parte do processo de torná-la mais competitiva".

José de Lima Massano lembrou que no actual quadro, mantendo-se nível de despesas em moeda estrangeira, as reservas nacionais podem cair 50%.

"Nós no final do ano passado registámos uma queda de reservas na ordem dos 33% e mantendo-se as actuais circunstâncias e, assumindo-se que a nível da receita tenhamos um comportamento muito semelhante daquilo que foi 2017, a nível da despesa em moeda estrangeira, corremos o risco de no final deste ano registarmos uma quebra das nossas reservas em cerca de 50%", considerou.