Mas não se pode dizer que as boas notícias para as economias mais petrodependentes tenham acabado, não apenas porque a guerra desencadeada por Israel está longe de terminar e começaram agora a ser visadas as infra-estruturas petrolíferas pelos dois lados, mas também porque o barril de Brent mantém-se claramente acima dos 73 USD.

E isso é um alívio para a equipa económica do Presidente João Lourenço, porque estava à beira de ter de agir face ao prolongado período em que o barril de Brent, a referência principal para Angola, tendo elaborado o OGE25 com a medida nos 70 USD de valor médio.

Sendo verdade que Israel já começou a atacar a infra-estrutura energética iraniana, desde os depósitos de crude nos arredores de Teerão aos campos de gás que Teerão explora com o Catar nas margens do Golfo Pérsico, e o Irão tenha atingido a principal refinaria israelita, em Haifa, o pior, neste capítulo, ainda está para vir e é muito provável que aconteça.

Até porque, ao que tudo indica, a mediação russa encetada pelo Presidente Vladimir Putin, depois do telefonema com Donald Trump, terá conseguido retirar as infra-estruturas nucleares dos alvos a atingir nesta guerra, por um e outro lado, o que coloca em maior destaque os complexos petrolíferos iranianos nos alvos israelitas.

E é precisamente esse ponto que pode fazer acontecer aquilo que há largos anos, décadas, a generalidade dos analistas admite que possa suceder, que é o Irão reagir à destruição da sua estrutura energética, vital para a sua economia, com o bloqueio do Estreito de Ormuz, o que impediria o tráfego marítimo por este local que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã (Oceano Índico).

E esse sim, seria o momento em que o barril de crude treparia para a estratosfera dos 200 ou mesmo 300 USD, como admitem alguns especialistas, porque pelo Estreito de Ormuz passa 25% do crude consumido em todo o mundo, perto de 20 milhões de barris por dia (mbpd), e toda a produção de gás do Catar, o maior produtor do mundo, de quem, por exemplo, hoje depende a Europa ocidental devido às sanções à Rússia no contexto da guerra na Ucrânia.

Não são apenas, se Teerão optar por fechar o Estreito de Ormuz, os cerca de 3,3 mbpd que o Irão produz, é grande parte da matéria-prima saudita e dos EAU que fica encalhada, um rombo gigantesco nas economias destes países e das grandes economias mundiais, como a China, os Estados Unidos e a Europa ocidental.

Antes deste momento de ebulição no Médio Oriente, o barril de Brent estava, há mais cerca de dois meses, perto dos 65 USD (ver links em baixo), ligeiramente abaixo ou acima, com um pico em baixa no início de Maio, quando chegou aos 58 USD, podendo agora voltar a descer em flecha com um acordo, pouco provável, entre Teerão e Telavive, ou subir a jacto se, como se espera, o conflito de agrave nos próximos dias.

Para já, perto das 10:30 desta segunda-feira, 16, o barril de Brent esta a valer 73,57 USD, menos 0.85% desde o início da sessão e o fecho de sexta-feira, 13, o que permanece, ainda assim, uma boa notícia para o deve e haver das contas públicas angolanas.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços acima do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito israelo-iraniano.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.