No comunicado divulgado pelos seus serviços de assessoria de imprensa e recebido pelo Novo Jornal, Isabel dos Santos diz que, "em função do que está a ser falsamente divulgado em vários órgãos de comunicação social" esclarece que tanto ela como as suas empresas "nunca foram clientes de nenhum banco norte-americano".

"É completamente falso e difamatório" que um banco norte-americano a tenha ajudado "em transferências associadas à sua família e ao Estado angolano", aponta o documento.

E esclarece: "Na qualidade de banco correspondente do banco BFA/BPI, o JPMorgan realiza pedidos de compliance regulares, solicitando informações sobre várias transacções e de vários clientes do banco, o que é absolutamente normal".

"Em 2013, os pedidos de informação adicionais que suportavam estas transacções foram solicitados pelos bancos e pelo supervisor e foram devidamente prestados. Foi, ademais, verificado que não existia nenhuma situação anómala nem nenhuma irregularidade e que se tratavam de pagamentos efectuados no âmbito de actividades comerciais ordinárias e correntes", sublinha do comunicado.

Isabel dos Santos, aponta ainda o documento, "nunca fez transferências associadas `à sua família", sendo esta alegação falsa e difamatória" e que Isabel dos Santos é uma "empresária independente", não existindo "nenhuma associação entre os seus negócios e a sua família" porque só representa os seus "interesses próprios e de mais ninguém".

"Este esquema de lançar notícias e suspeitas" para "destruir" Isabel dos Santos e as suas empresas foi "transformado numa arma de vingança e de acerto de contas", avança esta reacção da empresária através da sua assessoria de imprensa

"As transacções financeiras relatadas nos artigos jornalísticos são de 2013, ou seja, ocorreram há mais de sete anos. Esta informação é regurgitada e requentada e faz parte da campanha difamatória que continua a ser alimentada por aqueles que viram os seus rendimentos ilegítimos cortados na Sonangol" quando Isabel dos Santos ocupou o cargo de PCA de Junho de 2016 a Novembro de 2017, acusa.

E garante ainda que tanto Isabel dos Santos como o seu marido Sindika Dokolo "não fazem parte de qualquer esquema ilegal e/ou ilegítimo de circulação de fundos no sistema bancário internacional ou norte-americano" e que "é clara a intenção de provocar danos reputacionais, pelo que se refuta estas falsidades e estas notícias regurgitadas e sem fundamento".

O que diz a investigação do ICIJ

Nas notícias a que se referem estes comunicado, que o Novo Jornal também avançou, conta-se que empresária angolana Isabel dos Santos está entre os milhares de indivíduos e organizações que constam dos cerca de 2.500 relatórios bancários que apontam, embora sem que esteja provado qualquer ilícito, para o envolvimento de alguns dos maiores bancos mundiais em actividades criminosas de branqueamento de capitais transferidos ilicitamente para os Estados Unidos da América.

Denominada "FinCEN Files", esta é a mais recente investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) que, a partir de milhares de ficheiros obtidos pelo BuzzFeed News, um site de notícias e entretenimento norte-americano, começou nas últimas horas a revelar uma intrincada teia de alegada criminalidade ligada a organizações criminosas globais e alguns dos maiores bancos do mundo, como o JP Morgan, o HSBC ou o Deutsche Bank, que, entre outros, estão envolvidos na lavagem de milhões provenientes da corrupção, peculato, tráficos de vária ordem, roubo...

Depois do Luanda Leaks, que envolveu 715 mil documentos electrónicos e onde Isabel dos Santos e o seu marido, o empresáro congolês-democrático Sindika Dokolo, se viram envolvidos numa larga teia de esquemas ilegais de transferências de dinheiro, que levou a acções judiciais em Angola e em Portugal, com contas e bens congelados em ambos os países, agora, uma nova fuga de ficheiros, cerca de dois mil e quinhentos, apanha de novo o casal enquanto clientes de bancos que fazem parte de um esquema planetário de lavagem de dinheiro para os EUA, embora seja fundamental sublinhar que esta presença nos relatórios não é uma prova inequívoca de culpa e ligação a actividades criminosas ou moralmente condenáveis por si só.

Nesta investigação recente da ICIJ, como o jornal português Expresso, que integra esta mega investigação, revelou, Isabel dos Santos e o marido estão envolvidos em pelo menos dois dos relatórios com referências a movimentações de milhões de dólares com data de 2013, incidindo estas referências sobre processos relacionados com a compra pelo casal da joalheira internacional de Grisogono, com um "link" à Sodiam e à aquisição de diamantes.

Estes documentos fazem parte de cerca de 2.500 relatórios enviados entre 1999 e 2017 à agência federal dos EUA que investiga eventuais ilegalidades nas transacções financeiras no âmbito das competências do Departamento do Tesouro, denominada (FinCEN, a sigla inglesa para Financial Crimes Enforcement Network.

Os principais envolvidos em pouco menos de 2.000 biliões (2 mil vezes mil milhões) USD são o Deutsche Bank, ramo americano do maior banco alemão, e o JP Morgan, o primeiro com cerca de 1,3 biliões e o segundo com pouco mais de 514 mil milhões.