Apesar de já pouco mistério haver neste processo, depois de o BPI ter vendido os 2 por cento do BFA à UNITEL que permitiram a passagem do controlo do banco angolano para o universo empresarial de Isabel dos Santos, resta esperar para saber se e quantos dos pequenos accionistas vão vender e se não haverá ainda uma etapa judicial a cumprir para que este negócio seja, finalmente, fechado por completo.
Para já, parece que o BFA ainda não está totalmente fora dos instrumentos de pressão para os pequenos accionistas fazerem valer as suas posições, visto que um dos argumentos em uso para contestar o valor da OPA dos espanhóis é que os 1,134 euros por acção oferecidos não pagam a perda de controlo do Banco de Fomento de Angola.
Isto, depois de interesses angolanos terem estado envolvidos no turbilhão negocial que levou o Caixabank a subir o valor da OPA de 1,113 euros/acção para 1,134, face a uma alteração legislativa em Portugal que ameaçava a desblindagem obrigatória dos estatutos do banco, onde, indiferentemente da quota, os direitos de voto estavam limitados a 20 por cento, tendo a empresária angolana Isabel dos Santos estado na primeira linha de contestação a este passo durante largos meses.
O impasse foi, então, resolvido com a entrada do BFA na guerra negocial, tendo o BPI cedido o controlo deste banco à UNITEL, que pagou 28 milhões de euros por dois por cento do capital, o que levou a operadora angolana a ficar na posse de mais de 50 por cento (51,9%) do maior banco privado em Angola.
Em pano de fundo a esta longa marcha negocial esteve a questão da perda de confiança do Banco Central Europeu (BCE) na supervisão bancária angolana, obrigando o BPI a livrar-se do peso que, por essa via, o BFA exercia na sua estratégia de médio/longo prazo, visto que o BFA, nos últimos anos, representou, de longe, o maior contributo para os lucros do BPI, chegando mesmo a valer mais de 80 por cento destes.
Foi neste cenário que o grupo Santoro Finance, de Isabel dos Santos, viu uma saída lucrativa para a batalha que travava já há algum tempo com o Caixabank a propósito da blindagem dos estatutos, que permitiam a Isabel dos Santos, apesar de controlar apenas cerca de 20 por cento do capital, manter uma posição negocial equivalente à dos espanhóis, apesar de estes deterem quase 40 por cento do capital.
Mas tudo isto deverá acabar hoje. Excepto se algum dos pequenos accionistas, ou um grupo deles, decidir usar a questão da perda de controlo do BFA para exigirem mais dinheiro pelas suas quotas, arrastando em tribunal um processo que, pelo menos para os grandes accionistas, está a ter um desfecho satisfatório, incluindo a empresária Isabel dos Santos, que vende com significativo lucro a sua participação no BPI e passa a deter o BFA - com 51,9% contra os 48,1% do BPI -, que era a estrutura do grupo BPI que mais lucros representa(va).
Se o processo não ficar hoje encerrado por causa da mudança do campo de batalha para os tribunais, envolvendo a perda de controlo do BFA pelo BPI, resta saber de que modo, do ponto de vista jurídico, poderá afectar a UNITEl e Isabel dos Santos, tendo em conta que o negócio da venda dos 2 por cento já está definido.
Perante este cenário, com o fecho do prazo para o "sim"ou "não" à venda a ter lugar hoje, na quarta-feira o mistério será desvendado: aceitaram ou não os accionistas mais renitentes ao negócio, porque exigem mais dinheiro pelas suas posições, vender ou manter?
Provavelmente o BFA, a UNITEL e a empresária Isabel dos Santos só deixarão de estar debaixo dos holofotes, no âmbito deste longo processo, se os tribunais portugueses não forem vistos pelos pequenos accionistas como a sua tábua de salvação, ou o instrumento para levarem o Caixabank a abrir mais o cordão à bolsa.