Mas o que importa é perceber o que está pode detrás desta boa notícia, não apenas para Angola, mas também para a maioria dos países exportadores com economia mais dependentes da matéria-prima.

E isso é, por estes dias, a luta de "barricadas" entre a ameaça que consubstancia o aumento da produção no seio da OPEP+, e a instabilidade na infra-estrutura produtiva e na distribuição na Rússia, em grande parte devido aos recentes ataques ucranianos a pontos de transporte e refinação.

Na reunião da OPEP+ agendada para esta semana, onde será discutida a política de recuperação das quotas anuladas nos últimos anos como mecanismo de controlo e equilíbrio dos mercados, está a deixar os analistas com uma pulga atrás da orelha.

Além disso, e não menos relevante, a questão do diferendo entre EUA e Índia ainda está ao lume, com a reacção, para já negativa à pressão tarifária de Donald Trump sobre Nardndra Modi, com o primeiro-ministro indiano claramente a recusar deixar de adquirir o crude russo com que os americanos dizem que Vladimir Putin está a financiar a guerra na Ucrânia.

Mas se no que diz respeito à reunião da OPEP+ e o que ditará a "real politik" indiana, que, para já, parece estar a aproximar Nova Deli mais de Pequim e de Moscovo que de Washington, não é possível adivinhar o que o futuro trará, já sobre a questão russa, é factual que os misseis e drones ucranianos estão a gerar problemas sérios, incluindo dificuldades de abastecimento para as necessidades internas.

Segundo contas feitas pela Reuters, que estão sujeitas à necessidade de se considerar que, em contexto de guerra, e com esta agência britânica na lista do Kremlin dos media amigos de Kiev, estas informações poderem resultar de dados parciais ou erróneos, os ataques ucranianos provocaram danos sérios em 17% da capacidade industrial petrolífera russa.

O que não é pouco quando se trata do segundo maior exportador do mundo e um dos três maiores produtores, apesar das sanções gigantescas que a Europa Ocidental e os EUA aplicaram a Moscovo nos últimos 3 anos e meio, no âmbito do conflito ucraniano.

A par dos resultados já conseguidos pelos ucranianos na infra-estrutura russa, como os media especializados estão a destacar nesta terça-feira, 02, o Presidente Volodymyr Zelensky está a ameaçar especificamente este sector com novos e mais intensos ataques com os seus mais modernos misseis "Flamingo" de longo alcance.

Além destes contornos, que já de si são combustível para as dúvidas todas e mais algumas, a OPEP+ tem estado, desde Maio deste ano, a acrescentar mensalmente alguns milhares de barris por dia à produção do "cartel", estando actualmente acima dos 500 mil barris por dia e pode chegar, segundo a AIE aos 800 mil no final do ano.

Com este acrescento, que é contranatura visto que prejudica directamente os seus membros, com a baixa nos preços que gera, e não tem uma explicação lógica, a não ser a questão geoestratégica e de política global de aproximação aos interesses dos EUA por parte da Rússia e da Arábia Saudita, a OPEP+ está a provocar uma subida mais lenta dos preços que aquela que o mapa global da instabilidade poderia criar.

E é neste contexto que o barril de Brent chegou esta manhã de terça-feira aos 69,44 USD, mais 1,83% que no fecho anterior, aproximando assim a medida dos 70 USD usados por Angola na elaboração do seu OGE 2025.

Estes valores são uma boa notícia, apesar de ainda abaixo da fasquia "verde" mas o país não está, por estes dias, a lidar apenas com o preço baixo do barril, tem ainda a atormentar a equipa económica de João Lourenço a queda lenta mas persistente da produção, que já está abaixo de 1 mbpd.

Entre o alívio e a incerteza, a economia nacional abana

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a perspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia mais distante.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.