Estas duas centenas de trabalhadores do maior banco angolano já foram notificados do seu despedimento.

"Aos trabalhadores foi exigido , no dia 21, que assinassem as cartas de rescisão de contrato. Há até pessoas com mais de 30 anos de serviço no banco incluídas", lamentou Carlos Quarenta, primeiro secretário da comissão sindical.

O responsável do sindicato do BPC disse também que a direcção do banco não está aberta a negociação com nenhum funcionário e mostrou-se desagradado com o silêncio do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) e das Finanças que não conseguiram, nessa altura, acautelar a situação que considerou "violação de deveres e de direitos".

"Todo o acto que está a ser feito agora esta a violar o Decreto Presidencial. Porque há uma política que defende a inclusão e o aumento do emprego, mas isso não está a ser levado em consideração, o que é complicado", realçou, acrescentando que a instituição não deve ir por esse caminho, o do despedimento

Conta ainda o sindicalista que todos os trabalhadores estão com os ânimos exaltados e que a comissão sindical está tentar acalmá-los para que não haja desordem, visto que "em todos os balcões do BPC há funcionários tristes e sem moral para trabalhar em função da decisão".

Carlos Quarenta disse que nesta altura o BPC está com uma capacidade de produção abaixo daquilo que se esperava porque os trabalhadores estão expectantes por não saberem o dia de amanhã.

"Apelamos à administração do banco, aos accionistas, MAPTSS, BNA, Assembleia Nacional e o Ministério das Finanças, a pensarem bem no que estão a fazer com o BPC, porque o BPC foi criado num passado e contexto diferente onde o Estado precisava de colocar agências nos sítios mais recônditos de Angola, aonde os bancos privados não operam até hoje", realçou.

O responsável sindical lamenta o facto de ser hoje o mesmo Executivo, a mando do Ministério das Finanças, que diz que os funcionários do BPC não são mais precisos.

"Quem está com o dinheiro do crédito mal parado do BPC que hoje está a ser negociado entre várias entidades? Nós, os trabalhadores, é que estamos a pagar a fatia mais cara das consequências de uma gestão danosa", desabafou o líder sindical acrescentado que essas mesmas pessoas "deixaram a fatia mais amarga para aos funcionários de base que, no fundo, nunca fizeram nada a não ser cumprir orientações".

A comissão sindical do BPC solicita ao conselho de administração que se sentem à mesma mesa para negociar alternativas ao despedimento de milhares de trabalhadores, o que seria, considera, "uma lufada de ar fresco para Banco de Poupança e Crédito e os seus accionistas".

O processo de despedimento de pessoal no maior banco público do País, que viu os seus activos deterioram-se nos últimos sete anos, com prejuízos acumulados, até Dezembro de 2019, de 404,7 mil milhões de kwanzas, marcará o início de uma nova fase naquele banco.

De recordar que em Junho último, o presidente de Conselho de Administração do BPC, António André Lopes, disse, em conferência de imprensa, que o plano prevê igualmente o encerramento de 60 agências bancárias, de modo a tornar a estrutura comercial mais sustentável de acordo com o seu papel.

Para o efeito, o banco tem preparado um valor de mais 18 mil milhões de kwanzas para indemnização dos funcionários, de acordo com a Lei Geral de Trabalho, acrescido de um prémio.

Na ocasião, o PCA salientou que o banco vai patrocinar duas formações técnico-profissionais, para além da cedência de um crédito para o desenvolvimento de um negócio no quadro da formação, para que o funcionário não fique desamparado.

"A redução do pessoal resulta de um conjunto de medidas adoptadas para reduzir os custos operacionais, que actualmente são superiores aos proveitos", disse o presidente de Conselho de Administração.

Consciente do momento difícil que o País enfrenta e tendo em conta a responsabilidade social, o conselho de administração propõe-se a recompensar cada colaborador afectado neste processo, através de um pacote de compensações e benefícios, referiu António André Lopes, aos jornalistas, na ocasião.

Recorde-se que, segundo analistas, o BPC é um banco tecnicamente falido porque todos os seus activos não somam o valor das suas dívidas, ou seja, o seu passivo é substancialmente superior aos seus activos.