Sabe-se que em Angola não há outro lugar como este para encontrar diamantes gigantes, sabe-se que só em 2017 o Lulo "pariu" oito diamantes com mais de 100 quilates e sabe-se ainda que foi daquele lugar "mágico" que partiu para o mundo o diamante de 404 quilates, o maior de sempre encontrado no país.

Não é segredo também que o tamanho não é tudo na indústria diamantífera e que a dimensão das "rocks" do Lulo não é tudo, estas são igualmente e por norma de excepcional qualidade, quase todos de tipo "D-color", ou seja, de um brilho elevado e translúcidos, os mais apreciados pelo mercado, sendo ainda parte do registo do Lulo um ou outro diamante colorido, como um excepcional rosa encontrado o ano passado.

O mundo ficou a saber em 2017 que de Angola saiu o diamante que foi transformado numa das jóias mais raras e caras alguma vez leiloadas pela leiloeira londrina Christie"s, depois de a De Grisogono, a joalharia suíça de luxo que foi comprada por Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, que comprou o tal diamante de 404 quilates por 16 milhões de dólares norte-americanos, ter, a partir dele, criado uma jóia de 163 quilates que foi vendida em Genebra por cerca de 34 milhões USD.

As preciosidade extraídas do Lulo foram e são de tal ordem que a Lucapa Diamond Company, que explora, desde 2008, com quotas semelhantes, a mina com a Endiama (concessionária) e os privados, que são sócios minoritários, da Rosa & Pétalas, face a tal fenómeno, e porque o seu equipamento no local não estava calibrado para detectar pedras de grande dimensão, adquiriu novo equipamento, com tecnologia XRT, que permite detectar diamantes até 1 100 quilates.

E com ele, em Outubro de 2016, resolveu revirar uma estrada, literalmente, porque esta tinha sido construída com os entulhos resultantes da exploração anterior e, por isso, poderia esconder algumas raridades, o que permitiu ao Lulo aparecer na imprensa de todo o mundo como o sítio atravessado pela "estrada dos diamantes gigantes".

Mas há mais: no mercado dos diamantes, as pedras com mais de 10,8 quilates são consideradas "especiais", passando ao estatuto de mais desejadas e o Lulo também aqui brilha como poucas outras minas de diamantes, tendo, nos últimos três anos soltado centenas destas gemas.

O Lulo é claramente um fenómeno em Angola e é comparável com poucas minas em todo o mundo, pelo menos nestes últimos anos.

Mas a questão que anda a dar a volta a cabeça dos gestores da Lucapa Diamond Company é uma e uma só.

De onde saíram estes gigantes?

Sabe-se onde são encontrados todos os gigantes extraídos do Lulo, que tem na conta não só o maior encontrado em Angola, mas os três maiores diamantes extraídas desde que existe indústria diamantífera no país.

São todos diamantes de aluvião, arrastados pelos rios que atravessam os 3 000 quilómetros quadrados do Lulo e depositados em certos locais ao longo de milhões de anos.

Mas é sabido igualmente que é dos kimberlitos, que são conjuntos específicos de rochas formados a grande profundidade, por vezes superiores a 150 quilómetros, que, devido aos movimentos na crosta terrestre, são expulsos das entranhas do planeta, onde existem temperaturas e pressões monstruosas, essenciais à criação do diamante, trazendo com eles as gemas mais desejadas do mundo para a superfície.

A Lucapa ainda não encontrou o kimberlito mãe dos gigantes que há anos encontra nos rios que cruzam o interior da mina, mas é à sua procura que emprega uma boa parte dos meios que dispõe no local.

Isto, porque, como já o admitiram os seus responsáveis, nele estão, seguramente, depositados outros diamantes de grande dimensão que não foram arrastados pelos rios ou pelas águas das chuvas e o mundo, como lembrou o director de pesquisa da Lucapa, Martin Potts, citado pela imprensa australiana, a procura e o interesse pelos diamantes gigantes tem crescido na última década em razão directa ao aumento do número de milionários.

Ou seja, encontrar a fonte primária dos gigantes encontrados até agora no Lulko pode significar várias coisas, mas uma delas é que onde há uma há outras "pedras" de 404 quilates ou mais, até porque o maior diamante do mundo, o "Lesedi La Rona", com 1 109 quilates, foi encontrado no Botsuana, em 2015.

O sector rende a ao país entre mil e dois mil milhões de dólares ao ano, dependendo do estado em que estiver o mercado mundial de diamantes, mas em 2017 esse valor quedou-se pela limite mínimo, arrecadando apenas mil milhões para os cofres do estado.

O ano passado, mesmo com o fenómeno do Lulo, o valor médio do quilate do diamante angolano foi de apenas 117 USD, quando em 2016 tinha sido de pouco mais de 121 dólares norte-americanos, sendo a razão para este baixo valor o facto de a maior parte das "pedras" extraídas ser material de utilização exclusivamente industrial.

Recorde-se que Angola conta com o 4º amior kimberlito do mundo, na Catoca (Lunda Norte), explorada pelos russos da Alrosa, e o Luaxe (Lunda Sul), que deve entrar em exploração entre este ano e 2019, que a mesma Alrosa estima poder conter mais de 35 mil milhões de USD em quilates, passará a ser o maior kimberlito do mundo conhecido até agora.

A produção angolana anual em quilates situa-se em torno dos 9,3 milhões de quilates mas, com o Luaxe activo, poderá ultrapassar os 10 milhões.

Mas se a Lucapa Diamond Company encontrar o kimberlito-mãe de todas as suas extraordinárias pedras encontradas nos aluviões do Lulo, todas estas contas poderão ser ofuscadas pelo brilho intenso da descoberta.

E Angola voltará, seguramente, a figurar no mapa dos locais de maior interesse para o mercado das pedras preciosas, as tais que são... "para sempre".