Angola foi um dos países mais afectados pela acentuada quebra do preço do barril de crude que, entre 2014 e 2017, tombou de pouco mais de 100 USD/barril para apenas 28 em Fevereiro último, gerando uma paragem brusca naquele que era um dos crescimentos económicos mais robustos do mundo durante um período de vários anos, pelo menos desde 2007.

Apesar de o barril de crude ter saído do pântano dos 20 dólares para os actuais cerca de 50, num sobe e desce que vai dos 47 aos 55, estando hoje a negociar nos 51,6 USD em Londres, para os países mais dependente do "ouro negro", como é ocaso de Angola - basta, para isso ter em conta a pujança económica do país quando o barril estava acima de 100 USD e a asfixia que vive hoje -, pelo menos durante alguns anos, até que a economia esteja solidamente diversificada, os preços baixos da matéria-prima vão ser um forte condicionante ao crescimento e também ao seu desenvolvimento.

Recorde-se que foi graças aos acordos para cortar a produção global assinados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), à qual pertence Angola, e outros produtores não-membros, em Novembro do ano passado, que o barril de crude saiu do buraco em que estava, tendo a produção angolana contribuído com 78 mil barris dia dos 1,8 milhões suprimidos à produção diária global.

Para se ter noção do peso do petróleo no deve e haver do Orçamento de Angola, por exemplo, no ano de 2015, que permite uma imagem média do impacto entre 2013 e 2017, as receitas fiscais oriundas do sector petrolífero caíram para 36, 5 por cento, metade do que tinham sido em 2014, por causa da queda do preço do barril.

Isto levou, com estrondo, à diminuição de 70% para 36, 5 por cento no contributo do crude exportado para as receitas do OGE daquele ano, em que o petróleo teve um comportamento semelhante ao que tem na actualidade, entre os 40 e os 50 USD.

E é este cenário difícil que o próximo Governo, forjado nas eleições gerais de amanhã, cuja posse deverá ocorrer em meados de Setembro, pelo menos no que toca ao valor do petróleo, vai ter pela frente, com evidente, como têm alertado alguns economistas, necessidade de apertar o cinto se não surgirem alterações no panorama internacional que levem o barril de volta a preços confortáveis.

Para já, o grande inimigo do esforço feito pela OPEP+Rússia & e outros para cortar a produção por forma a pressionar o preço do barril para cima é a produção independente norte-americana, nomeadamente no chamado petróleo alternativo, ou de xisto (shale), ou ainda "fracking", que tem conseguido subsistir e aumentar até a sua produção, compensando as quebras nos "stocks" da maior economia do mundo em alguns milhões de barris por semana em resultado do enxaguamento provocado pelos cortes impulsionados pelo "cartel".

Sabe-se que a resposta do Governo de Luanda a este cenário foi apostar na diversificação da economia por forma a diminuir a dependência das exportações de crude, mas, quaisquer efeitos benéficos desta estratégia demoram a sentir-se e é unicamente essa faixa estreita que vai existir para o próximo Governo angolano circular.

A não ser que, como admitem alguns analistas, as reservas de crude e combustíveis das grandes economias não resistam e desçam para níveis que gerem pânico nos mercados e estes reajam com uma subida igualmente abrupta no preço do barril, idealmente para a casa do 80 USD, o ideal para as economias mais dependentes.