Acontece que no universo do negócio global do petróleo, nem tudo o que parece é, nem tudo o que é complexo deixa de parecer simples. Por exemplo: se o barril de crude passar amanhã para os 80 dólares, para Angola isso parecerá um boa notícia tendo em conta a crise que o país atravessa... mas não é assim.

Isto, porque se o barril disparar para um valor acima dos 70 USD, os ganhos dos países exportadores pode ser de curto, ou muito curto, prazo, porque as indústrias do petróleo alternativo, sendo disso exemplo maior a extracção norte-americana do chamado petróleo de xisto, que têm um "breakeven" próximo dessa marca, regressariam em força ao mercado, desmoronando o efeito benéfico conseguido com os cortes de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) definidos em finais de 2016 pela OPEP e produtores não-membros como a Rússia e o México.

Com os cortes de 1,8 mbpd, que vigoram desde 01 de Janeiro de 2017 e devem prolongar-se até meados de 2018, como tudo indica que possa vir a acontecer, a OPEP+Rússia conseguiram secar o mercado e isso conduziu a uma diminuição drástica das reservas das maiores economias mundiais, como a dos EUA e da China, com um aliado de monta a enfonar as velas desta estratégia: o forte crescimento da economia mundial e a consequente crescente procura da matéria-prima.

Com este cenário como pano de fundo, o barril de Brent (Londres), que serve de referência às exportações angolanas, trepou vigorosamente dos 28 USD em Fevereiro de 2016, e pouco mais de 30 quando os cortes tiverem início, para os actuais 69, tendo mesmo ultrapassado os 70 no final da passada semana.

Face a esta euforia, do ponto de vista dos países produtores - basta ter em conta que Angola elaborou o seu OGE 2018 com base no barril a 50 USD -, e quando alguns analistas já apontavam para a fasquia dos 80 USD/barril, eis que o ministro dos Petróleos do Irão, Bijan Namdar Zanganeh, que é citado hoje na imprensa especializada, vem a terreiro afirmar que a OPEP não tem interesse em ver o barril acima dos 60 USD.

Mas não é só o problema do petróleo de xisto, ou "fracking" (perfuradora na fotografia), nos EUA, que é extraído através da injecção de água a altas pressões no subsolo para esboroar a rocha e extrair assim os hidrocarbonetos existentes na sua composição, que fez soar as campainhas no seio do "cartel" e associados...

Também se sabe que o petróleo alto entre 2008 e 2013 foi responsável pelos volumosos investimentos dos países consumidores em energias alternativas (solar, eólica, hídrica..) e as multinacionais construtores de automóveis nos veículos híbridos, que consomem pouco ou nenhum combustível fóssil.

Tudo isto somado resulta na perda de valor do petróleo porque as economias desenvolvidas tendem a, por cada ano que passa, diminuir a sua necessidade de crude para produção de energia e para os veículos automóveis ou transportes públicos...

Foi esta a razão, ou conjunto de razões, que levou o responsável iraniano a chamar a atenção para o escasso interesse da organização em ver o barril acima dos 60 USD.

Para Angola, isso, se se tiver em conta as únicas declarações feitas por um responsável sobre esta questão, o antigo ministro dos Petróleos Botelho de Vasconcelos, que, em meados de 2017, afirmou aos jornalistas que para Angola o barril na casa dos 60 "não seria nada mau", as palavras de Bijan Namdar Zanganeh não devem soar muito estranhas, embora contrariem o senso comum, que conduz para a ideia de que quanto mais elevado melhor, como se pode deduzir de forma ligeira lembrando a bonança que o país viveu quando o barril esteve durante anos acima dos 100 USD e do facto de o petróleo ser ainda responsável por 95 % das exportações nacionais.

Face a isto, facilmente se conclui que a estratégia da OPEP em manter os cortes de 1,8 mbpd é para manter, como os seus responsáveis têm dito amiúde, mas com ligeiras afinações para não deixar o pânico instalar-se nos mercados e o preço subir sem controlo, injectando mais barris sempre que o valor do barril passar a fasquia definida como adequada aos interesses dos membros do cartel e dos seus associados recentes na definição da baixa estratégica na produção.

No entanto, todo este cenário está sujeito a imponderáveis regionais, como sejam as tensões no Médio Oriente, o incessante conflito na Líbia, as guerrilhas activas no Delta do Níger (Nigéria), os tumultos na Venezuela, entre outros focos de crise latente em todo o mundo, que podem, como lembram alguns dos mais atentos analistas, deixar tudo às vessas na perspectiva da OPEP e o barril disparar para os 80 dólares norte-americanos.