Para Angola, cuja dependência das exportações de petróleo para as suas contas é pública e notória, mais de 95 por cento do total das suas exportações, a descida do preço do barril é sempre uma dor de cabeça, o que a consultora internacional BMI Research, com sede em Londres, acaba de confirmar, especificando que a queda do preço do crude é a grande ameaça do momento à economia do país.

A par da queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, a BMI Research coloca como risco a desvalorização do Kwanza, ou depreciação na terminologia oficial do Banco Nacional de Angola (BNA), porque estão ambos ligados umbilicalmente ao aumento do custo de vida e da dívida externa.

No seu último relatório produzido para a economia angolana, a consultora londrina explica que os principais riscos são o "falhanço na recuperação dos preços do petróleo" tendo em conta o peso deste na economia e no impacto brutal que tem na taxa de câmbio, e ainda a depreciação da moeda nacional porque aumenta "o custo da dívida externa", engrossando o risco de "incumprimento financeiro", ou "default".

Balão de oxigénio

No entanto, este risco, o da queda do preço do petróleo, que se vinha a consolidar nos últimos dias, pode ter recebido hoje um novo balanço para cima, com uma subida robusta de 1 por cento em Londres, fixando-se, na abertura do mercado, acima dos 63,40 USD.

Recorde-se que, em poucos dias desceu dos 70 USD para os 63, quando tinha necessitado de quase quatro meses para subir na mesma proporção, batendo o recorde de quedas de quase dois anos, apesar dos esforços dos cortes na produção da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) iniciados no início de 2017.

Uma das razões para esta periclitante situação do petróleo é o aumento consolidado da produção norte-americana, que já está nos 10 milhões de barris por dia, superando o maior produtor mundial, a Arábia Saudita, cuja produção está encolhida por causa dos limites impostos pelo acordo da OPEP e outros produtores não membros do cartel, e ainda da Rússia, pressionada na produção em baixa pela mesma razão.

Os EUA são, como não deixam de lembrar alguns analistas, actualmente, o grande "inimigo" da estratégia da OPEP+Rússia para, através dos cortes na produção, fazerem subir os preços, o que foi feito com sucesso desde Janeiro de 2017.

A produção norte-americana, seja a convencional, seja através do alternativo "fracking", ou petróleo de xisto, não tem parado de subir e pode mesmo vir a esboroar os esforços da OPEP, que Angola integra e para cujo esforço no enxugamento do mercado contribui com 78 mil bpd, quando era, precisamente, a queda contínua das reservas da maior economia mundial que estavam a impulsionar os preços até aqui.

Uma das respostas possíveis por parte da OPEP e da Rússia é terminar antes do prazo, finais de 2018, o acordo de cortes, porque isso levaria a uma queda acentuada dos preços mas, ao mesmo tempo, condenaria a produção norte-americana do xisto.

Isto, porque o "breakeven" do "fracking" se situa entre os 65 e os 70 dólares por barril, devido aos elevados custos da técnica de extracção - injecção de água em alta pressão a grande profundidas para explodir a rocha sorvendo o gás e o petróleo existente no seu interior -, razão pela qual, em 2014, a maior parte destas empresas foram à falência e agora, com os preços em alta graças aos cortes da OPEP, estão voltar em força, pondo em causa a estratégia que também envolve o esforço da produção angolana.

Alias, WTI (Texas) tem o barril hoje a ser vendido a pouco mais de 59 dólares, o que, provavelmente, é uma terrível notícia para o sector do xisto, tendo em conta que este "explodiu" quando este mercado atingiu os 64 USD...

Mas só os próximos dias permitirão saber se os industriais do "fracking" estão ou não a matar a galinha dos ovos de ouro, até porque os ministros dos Petróleos e das Energia da OPEP já admit9iram que estão a repensar a sua estratégia para fixar os preços nos 60 dólares por barril como ferramenta de contenção da produção do xisto norte-americano porque a este preço, e com a actual tecnologia, o negócio não é rentável, ao mesmo tempo que 60 USD é um preço razoável para os países envolvidos na estratégia de cortes.

Tenha-se em conta que, na última declaração sobre este assunto, que pertence ao anterior ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, o barril dos 60 USD "não é mau para Angola" mas será seguramente, se assim se mantiver, bastante mau para os produtores do xisto nos EUA, e noutras paragens onde esta técnica já é usada, como na China, por exemplo, onde começa a dar os primeiros passos.

Perspectivas fracas

Voltando ao que dizem os analistas da BMI, consultora integrada no grupo da agência de "rating" FItch, "as perspetivas de um crescimento mais sustentável" em Angola sob "continuam magras, apesar de várias mudanças em posições importantes no governo".

O documento divulgado em Londres estima ainda que a produção de petróleo vai crescer em Angola mas o impacto na economia será pouco relevante porque essa mês naprodução vai estagnar em 2019 e as reformas exigidas com urgência na economia nacional são claramente insuficientes.

Os ingleses da BMI não acreditam muito, como se percebe neste documento, nas mudanças de facto em Angola, apesar da mudança de pessoas nos cargos: "Apesar das sonantes mudanças de pessoas nos cargos, continuamos cépticos que estas alterações signifiquem um progresso significativo nas reformas necessárias".

E apontam mesmo o dedo ao Presidente João Lourenço, como sublinha o documento citado pelas agências de notícias: "As medidas (mudanças de pessoas nos cargos) representam uma tentativa de João Lourenço de consolidar o poder e sair da sombra do seu antecessor", embora esta afirmação não esteja fundamentada em dados, podendo ser sublinhada como apenas a percepção dos analistas da BMI Research.