Isto, ao mesmo tempo que o "cartel" anunciava que está a cumprir a 101% (Outubro) com os 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) retirados de circulação para conter os efeitos nefastos da pandemia da Covid-19 no preço do crude nos mercados internacionais, graças ao forte impacto que esta teve no consumo desde que o novo coronavírus iniciou, na China, em Dezembro de 2019, a progressão planetária para os cinco continentes.

Estes dois dados oriundos da OPEP+, organização que agrega os 14 Países Exportadores (OPEP), que inclui Angola, e um grupo de 10 não-alinhados liderado pela Rússia, que é o cumprimento integral do plano de cortes e a possibilidade de estes serem mantidos para lá de Janeiro, estão, todavia, ainda dependentes de uma decisão final a tomar na reunião marcada para hoje e terça-feira entre os membros da OPEP e também da OPEP+, embora o registo histórico indique que as "fugas" de informação de alguns dos membros sejam, efectivamente, estratégicas e não falhas de "segurança", acabando por se cumprir.

Para hoje está marcada a reunião do Comité Técnico Conjunto (JTC, sigla em inglês)) que agrega técnicos da OPEP e dos restantes membros da OPEP+, e para amanhã, terça-feira, está calendarizada a reunião do Comité de Monitorização Ministerial Conjunto (JMMC, sigla em inglês). Estes dois dias são decisivos para se ficar a conhecer qual a opção estratégia do "cartel" que agrupa mais de 50 % da produção mundial de crude e tem em curso um intenso programa de cortes à produção.

Este programa de cortes visa reequilibrar os mercados fortemente afectados pela pandemia que desde que surgiu tem feito recuar a procura e, por isso, empurrado os preços do barril para baixo, a ponto de em Abril deste ano ter alcançado valores negativos em Nova Iorque e preços historicamente reduzidos em Londres, tendo, depois, iniciado uma lenta recuperação, muito por causa das medidas do "cartel".

Hoje, o Brent de Londres abriu a subir e pouco depois das 10:00 de Luanda já estava a ganhar quase 2%, para cima dos 43,50 USD por barril, referente aos contratos de Dezembro, enquanto em Nova Iorque o WTI, à mesma hora e mesmas características referentes aos contratos datados, estava a valer 40,85 USD, ostentando uma subida de mais de 1,80%.

Estes valores são importantes para Angola se se mantiverem, visto que o OGE 2021 está elaborado usando como referência o barril de crude, que ainda é responsável por mais de 90% das exportações nacionais e o maior contribuinte líquido para as receitas do Estado, nos 39 USD, quase quatro dólares abaixo do que é pago em Londres por cada barril exportado por Angola, que está actualmente na ordem dos 1,29 milhões por dia.

Angola enfrenta ainda um outro e grave problema que é o lento mas continuado empobrecimento da sua produção em resultado de falta de investimento das "majors" a operar no seu offshore mas também do envelhecimento dos seus poços, muitos deles já exangues, enquanto tarda o investimento em novos furos rentáveis, apesar das políticas agressivas do Executivo nesse sentido.

Nos últimos 10 anos, sublinhe-se, a produção angolana tem vindo num coerente declínio, desde os vigorosos 1,8 mbpd de há pouco mais de uma década até aos actuais 1,28 mbpd, com apetência para diminuir ainda mais, como tem insistido a Agência Internacional de Energia (AIE), se não surgirem novidades no advir breve.

Neste momento, e quando o mundo aguarda ansiosamente por uma vacina que o liberte do medo e permita o regresso da normalidade às sociedades consumidoras de crude, o que é essencial para o aumento do consumo, o maior inimigo ainda é a Covid-19, que bate diariamente recordes nos EUA, a maior economia do mundo, na Europa e em países como o Brasil e a Índia, onde aumentam os anúncios de confinamentos severos, aumentando a desconfiança nas respectivas economias e diminuindo o consumo energético.

Por outro lado, os mercados estão ainda atentos à retoma da produção na Líbia, o maior produtor do norte de África, onde um conflito armado interno levou a uma redução na produção para níveis próximos de zero nos últimos meses mas um acordo de paz alicerçado na ONU reverteu e está agora a aproximar-se velozmente de 1 milhões de barris por dia, contribuindo isso para aumentar o fosso entre a procura e a oferta que actualmente é periclitante e em desfavor da procura.

Mas há outras ameaças no horizonte, como esta, mesmo ao lado de Angola, na Namíbia, que pode contribuir fortemente para diluir os ganhos actuais se se confirmar a descoberta de uma gigantesca jazida de hidrocarbonetos na Bacia do Okavango.