Quando, em Julho de 2018, a Arábia Saudita, de forma unilateral, mas com o apoio tácito da Rússia, acedeu aos caprichos do Presidente norte-americano, Donald Trump, para injectar mais 1 milhão de barris por dia (mbpd) nos mercados como forma de fazer baixar o preço do barril, que estava na casa dos 80 USD, sabia que isso seria o início de uma nova crise no seio da organização que lidera, a OPEP, onde a maioria dos membros tem economias ultradependentes das exportações de crude.

E assim foi. De imediato o valor do barril, especialmente no mercado de Londres, onde o Brent marca o ritmo das oscilações em dólares das exportações da matéria-prima angolanas, caiu para valores recorde de meses, fixando-se nas margens dos 50 USD, o que, para Angola, por exemplo, foi trágico porque acabou por forjar o seu Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 com base no barril a valer 68 dólares.

Depois de satisfeitos os caprichos de Trump e do seus interesses eleitorais, a Arábia Saudita, já mais liberta da pressão de Washington por causa da morte estranha e polémica do jornalista Jamal Khashoggi, percebeu rapidamente o erro que tinha cometido.

Como sublinham alguns analistas, Riade, a braços com uma profunda crise na sua balança de pagamentos, atalhou caminho, voltando com os seus parceiros da OPEP e a Rússia à mesa para definir novos cortes, retirando, não só 1 mbpd que tinha acrescido em Julho de 2018, como foi mais longe em pelo menos 200 mil barris, ao mesmo tempo que também os associados do "cartel" procediam a cortes, embora de valor menos significativo, como foi o caso de Angola.

Abril era o mês agendado para rever este programa de cortes mas já não será assim devido à mescla de situações efeitos contraditórios gerados com a produção dos EUA em valores nunca vistos - é já o maior produtor mundial com quase 12 mbpd -, em plena guerra comercial entre Washington e Pequim - que começou a diminuir de intensidade -, com a crise na Venezuela a encolher a produção mundial e com aumentos na produção Líbia ou ainda a falha do impacto esperado das sanções norte-americanas ao Irão.

A comissão de acompanhamento e monitorização dos mercados da OPEP (JMMC, na sigla em inglês), face a este cenário, constatando ainda que a oferta de crude está em valores altos face à procura, acaba, segundo relatam alguns sites especializados, de propor o prolongamento do calendário estipulado para a revisão do acordo para lá de Abril, podendo a reunião ministerial em causa acontecer apenas em finais de Maio, antecipando a conferência da organização já programada para 25 de Junho, na qual ficará consolidada a estratégia para o segundo semestre de 2019.

Isso mesmo confirmou o ministro saudita da Energia, Khalid al-Falih, que, citado pela Reuters, afirmou que "o consenso existente é que Abril é claramente prematuro como data para definir qualquer decisão sobre a produção da segunda metade do ano".

Khalid al-Falih, que é, a par do seu homólogo russo, Sergei Lavrov, a voz fundamental nesta batalha épica entre os produtores e os grandes consumidores globais, com os EUA de Trump à frente, da qual resulta a definição de preços, disse ainda que "a situação tem melhorado nos últimos meses", referindo-se ao crescente valor do barril, mas notou também que ainda é cedo para ser taxativo porque "há mais trabalho para fazer".

Face a isto, e como seria de esperar, os preços têm estado a subir, a ponto de, por exemplo, ter sido atingido nestes dias o valor simbólico dos 68 USD por barril em Londres, que é o valor que o Executivo angolano usou para elaborar o OGE para 2019 e que, segundo já admitiu o ministro das Finanças, Archer Mangueira, está quase pronto para ser revisto.

Todavia, existem alguns sinais de que o Governo deveria reanalisar os fundamentais da sua decisão em proceder à revisão do OGE, porque alguns analistas consideram que os mercados estão actualmente num equilíbrio quase perfeito entre os interesses dos produtores e os desejos dos consumidores.

Os valores actuais - entre os 67 e os 68 USD por barril - são de molde a satisfazer os interesses dos produtores, gerando fortes dividendos fiscais entre os custos de produção e as vendas globais, e para os consumidores, estes mesmos preços apresentam-se equilibrados face aos 85 registados nos últimos meses de 2018 e ainda mais equilibrados face aos mais de 100 do início de 2014.

Para já, com esta decisão quase certa de que, ao contrário do que tinham decidido em Dezembro, em Viena, os membros da OPEP e aliados, vão prolongar os cortes para o 2º semestre deste ano e o actual cenário internacional, com, entre outras razões, a entrada na curva descendente da tensão gerada pela guerra comercial entre a China e os EUA, o petróleo vai, segundo os ais avisados analistas, manter-se nos níveis actuais, com ligeiras oscilações, que podem ir, circunstancialmente, até aos 75 USD ou descer até aos 66 USD por barril.

A colocar em causa este cenário pode estar, todavia, o formato que a Administração Trump vai querer dar às sanções aso Irão - o 5º maior produtor da mundial e o 3º da OPEP - que terminam em Maio e deverão ser então reavaliadas, estando em cima da mesa a possibilidade de serem suavizadas, mas podem igualmente ser fortalecidas, dependendo isso da conjuntura global e dos interesses políticos que entretanto estiverem em questão.