A recuperação do valor da matéria-prima a partir do início de Maio esteve directamente relacionada com o aligeiramento das medidas de contenção aplicadas em todo o mundo para conter a pandemia do novo coronavírus, especialmente nos EUA e na China as duas maiores economias planetárias e os maiores consumidores de crude.

Depois, os sinais oriundos da China apontavam claramente no sentido da recuperação do consumo no gigante asiático, um indicador fundamental porque a maior parte da sua indústria consumidora de energia está vocacionada para a exportação e este sector só cresce se o resto do mundo estiver em condições de importar, ou seja, se as restantes economias estiverem saudáveis.

Depois, a pandemia da Covid-19 começou a encolher um pouco por todo o mundo, desde logo na China, onde tudo teve início, depois na Europa, com Itália, Espanha e Alemanha a reabrirem as suas economias e o número de casos e recrudescer, o mesmo na Índia...

E, com isto, ao que acresce o corte de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) acordados pela OPEP+ (OPEP+Rússia), o petróleo recuperou da queda brutal que dera entre Janeiro e Abril, de quase 70%, no consumo, passando de 100 mbpd para pouco mais de 69 mbpd nos pipres momentos de Março, e mais de 60% do seu valor, caindo de perto de 70 USD por barril antes da pandemia para menos de 19 USD por barril em Março, no que diz respeito ao Brent, de Londres, onde é definido o valor médio das exportações angolanas.

Em Nova Iorque foi ainda pior, chegou mesmo a ser transaccionado o barril a valores de 40 USD negativos em finais de Abril, porque o mundo não tinha onde armazenar mais petróleo, e as reservas estratégicas das grandes economias estavam a transbordar.

Com a recuperação, o barril chegou a passar largamente os 40 USD em Londres e, agora, voltou a cair com estrondo, ainda não anto como em Março, mas cerca de 4 por cento na abertura do mercado de hoje é um mau sinal, embora esteja bem justificado: a recuperação anunciada aos quatro ventos pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, tanto a económica como na saúde pública, com a extinção da pandemia, pode ser, afinal, um flop.

E é, segundo estimam os mercados, onde o barril de Brent, nos contratos para Agosto, abriu a perder mais de 4%, estando, cerca das 09:30 a valer 40,34, menos 3,33% que na quarta-feira, enquanto o WTI, à mesma hora mas nos contratos para Julho, estava a perder 3,81%, para os 38,13 USD por barril.

Isto, porque os stocks nos EUA, segundo dados do Instituto Americano do Petróleo (API), estão em alta e a níveis jamais visto, contrariando todas as expectativas, uma consequências directa da chegada das cargas adquiridas em Março e Abril, aproveitando os preços historicamente baixos no rasto da crise da Covid-19 e, essencialmente, com a guerra de preços aberta entre sauditas e russos após o desentendimento sobre o valor a cortar no âmbito da OPEP+, com Riade a ameaçar e a concretizar a inundação dos mercados com petróleo quase de borla.

A aportar ainda mais condimentos para o cozinhado de sentimentos negativos, a Reserva Federal dos EUA veio agora dizer que a recuperação da economia norte-americana vai ser lenta ou mesmo inexistente, apontando para um encolhimento de 6,5% este ano, com o desemprego a fixar-se em média e até ao fim do ano nos 9,3%.

E como se não bastasse, da Europa à Ásia, das Américas a África, os indicadores de novos casos não param de tilintar, com cada vez mais contaminações quando se esperava que a pandemia estivesse substancialmente derrotada, depois de várias semanas a perder fôlego.