Os angolanos, com muito raras e esporádicas excepções, acabam de dar um exemplo à África e ao Mundo de educação cívica, de maturidade, de respeito pelos valores e princípios republicanos, expressos na Constituição e em todos os documentos que padronizam juridicamente a existência de um Estado Democrático e de Direito.

Expressámo-nos de acordo com as nossas convicções, com as nossas visões, com o modo como cada um olha para o País. Em função do nosso passado, do nosso presente e, o que é mais importante, do nosso porvir.

Olhando os mais-velhos para os caminhos tortuosos e complexos em que crescemos e nos tornámos - com as fraquezas e os percalços de qualquer caminhante, que primeiro tacteia e depois vai descobrindo os trilhos a percorrer - soberanos e independentes, e os mais novos, de sangue na guelra, olhando mais para a frente, muitas vezes (e ainda bem) só para a frente. Nada de extraordinário em cada geração nascente, que mede os impulsos e as vontades em função da urgência, como nós próprios o fizemos, quando queríamos abraçar os projectos comuns todos de uma só vez.

A História - tendo como componente essencial a acção humana - não se consolida com a velocidade a que individualmente podemos, uns e outros, aspirar. Há contextos concretos, geopolíticos, económicos, culturais, sociológicos, que explicam, quando devidamente estudados, qual o ritmo de transformações a seguir, partindo de um pressuposto fundamental e relativamente ao qual temos todos de estar de acordo: somos todos iguais (devemos ser) nos direitos e nos deveres e nenhum angolano é mais angolano ou melhor angolano do que outro.

É nessa noção da dimensão das nossas diferenças que vamos aprendendo a ter a consciência plena do que é ser-se cidadão angolano.

O que, se nos abre a porta a direitos fundamentais e inegáveis, também nos exige deveres que não podemos recusar em momento algum.

É essencial que, no todo nacional - partidos políticos, associações culturais, organizações não-governamentais, aquilo a que chamamos hoje de sociedade civil -, se ponham de acordo quanto a uma mão cheia de questões fundamentais que se prendem com o desenvolvimento de Angola. Com a recuperação económica no horizonte a curto prazo, mas com os pés bem assentes na terra, com a noção clara do que é inadiável e do que é acessório.

Com o desenvolvimento da agricultura e da indústria. Com a atenção imprescindível e obrigatória às questões mais graves da educação e da saúde. Com projectos concretos, estudados e aprofundados para cada província do País, obedecendo a padrões que correspondam à realidade concreta que cada uma apresenta e beneficiando, antes de mais, os seus habitantes. Com uma chamada obrigatória a todos os que melhor dominam as inúmeras áreas que precisam da nossa atenção, dispensando jargões partidários e querelas que pouco valem, se as olharmos como impeditivas, muitas vezes, de um mais acelerado e harmonioso combate pela inclusão, contra as desigualdades sociais e pela melhoria dos índices de desenvolvimento humano.