Nicolas Sarkozy acabou condenado a cinco anos de cadeia num longo processo judicial que começou há vários anos e acabou em Setembro último, e esta manhã chegou, de mão dada com a sua mulher, Carla Bruni, supermodelo e cantora famosa, à prisão de La Santé (A Saúde) para começar a cumprir a pena, enfatizando a sua inocência e garantindo aos jornalistas que o seu corpo estaria detido mas a sua mente se manterá em liberdade.

Pena essa que remonta a crimes praticados no distante ano de 2007, quando foi eleito Presidente da França com uma campanha financiada por fundos líbios fornecidos pelo regime de Muammar Kadafi, numa operação secreta, clandestina e ilegal...

Sarkozy, de 70 anos, é o primeiro Presidente francês da história moderna do país a ser preso e os cinco anos, dos quais deverá apenas cumprir uma pequena parte, na cadeia devem-se à sua ligação com o Presidente líbio que acabou morto em 2011, numa violenta "primavera árabe" que contou com o apoio da NATO para derrotar as forças leais ao regime.

Esse apoio extraordinário da NATO, uma organização de defesa Atlântica, recorde-se, surpreendeu a generalidade dos analistas e, mais tarde, acabou por levantar suspeitas porque a França foi o país mais empenhado nos bombardeamentos contra as tropas de Kadafi, numa acção militar directamente responsável pela derrota do coronel que liderava o país há décadas e acabou morto e apedrejado nas ruas de Sirte, a sua terra natal, a 20 de Outubro de 2011.

As suspeitas, como os media noticiaram, resultaram da possibilidade de Sarcozy ter instrumentalizado a NATO para se livrar das pontas soltas no regime líbio que o poderiam afectar devido às ligações espúrias resultantes do esquema que levou o dinheiro do coronel Kadafi para financiar a sua campanha em França.

Essa ligação, embora o tribunal a tenha ignorado, foi devidamente exposta por media como o francês Mediapart, e o próprio Kadagfi veio a público divulgar que entregou 50 milhões de euros a Sarcozy, que sempre negou a "oferta".

Mas a relação entre os ataques da NATO ao regime de Muammar Kadafi e o empenho de Paris nessa operação miliar aérea, levando a Aliança Atlântica a actuar numa geografia fora do seu âmbito estatutário de acção, desenhado aquando da sua criação, em 1949, expõem o agora condenado Nicolas Sarkozy à histórica utilização da organização militar mais poderosa do mundo para "queima de arquivos".