Apesar desta declaração que compromete o empenho de Washington na busca de uma solução pacífica, o chefe da Defesa na Administração de Donald Trump garantiu que a operação de larga envergadura desta última noite não visa a mudança de regime em Teerão.

Numa conferêcia de imprensa que convocou, para, ao lado do chefe militar dos EUA, o general Dan Caine, descrever as vertentes política e militar desta operação, que envolveu navios da Marinha dos EUA e a sua aviação estratégica, os bombardeiros B-2, Hegseth procurou deflectir a ideia de que Washington está 100% ao lado de Israel, que visa claramente esse objectivo.

Mas, apesar do descuido que foi ter dito que os planos estavam a ser desenhados há meses, o homem escolhido por Donald Trump para comandar a Defesa dos EUA, voltou a dizer que o Irão "teve todas as oportunidades para evitar este ataque" se optasse pelas negociações.

Naquela que foi, segundo o general Dan Caine, a mais pesada missão de sempre com o empenho dos bombardeiros B-2, realizada menos de 48 horas após Trump ter dado duas semanas ao Irão para aceitar as condições negociais para desistir do seu programa nuclear, Pete Hegseth não resistiu a jurar que o Presidente dos EUA "sempre esteve e está empenhado na diplomacia como primeira e prioritáreia opção".

Numa altura em que estas declarações de responsáveis norte-americanos perderam valor facial, depois do ataque israelita na sexta-feira, 13, (ver links em baixo) que deu início a esta nova guerra no Médio Oriente, quando Teerão estava "entorpecido" no processo de negociações com os EUA e estava prevista nova ronda negocial para Domingo, 15, o Irão vira-se claramente para os seus aliados.

A Rússia, para onde o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, segue na segunda-feira, 23, p+ara um encontro com o Presidente Vladimir Putin, e a China, com quem também o Irão tem parcerias estratégicas em diversas áreas, são os aliados mais próximos de Teerão e qualquer resposta, além dos ataques "normais" a Israel com os seus misseis balísticos, deve ser desenhada e decidida com a sua "aprovação".

Para já, Teerão nem sequer quer ouvir falar em diplomacia, porque, como notou já Araghchi, o Irão "não pode manter-se em negociações com um país que acabou de atacá-lo" com tal magnituide e meios, ao lado de um regime "sionista e criminoso" que lançou uma guerra "ilegal e não provocada" num momento em que o campo de batalha era a mesa das negociações.

E o facto de ter admitido que esta operação, que o Pentagono denominou "Martelo Nocturno" e na qual foram usados os incomparáveis B-2, alé de dezenas de misseis "Tomahwak" para "martelar" o Irão, dá ainda mais espaço de manobra a Teerão para evitar ao máximo voltar a negociar com Washington e Donald Trump.

Entretanto, no meio das palavras incandescentes de Trump, que fala de um "sucesso formidável e maravilhoso" da "Operação Martelo" e Hegseth, que não tem dúvidas de que o programa nuclear iraniano foi reduzido a quase nada, começam a surgir graúdas dúvidas sobre o real impacto do ataque nas infra-estruturas atingidas, nomeadamente Fordow, o principal, Natanz e Esfahan.

Até porque, segundo imagens de satélites russos e chineses, divulgadas nas redes sociais, sobre as quais dificilmente se pode garantir total credibilidade, de Fordow, o mais profundo e maior centro de enriquecimento de urânio, mas também dos outros, centenas de camiões apaecem a sair do seu interior rumo a locais desconhecidos.

Mas isso não choca com o que alguns analistas sublinhavam antes, quando o ataque dos EUA estava ainda a ser equacionado como provável, que o Irão já nada de relevante tinha nestes locais há meses, sendo apenas engodos para eventuais atenções indesejadas dos EUA e de Israel.

Nas próximas 48 horas perceber-se-á o que vai o Irão fazer, embora a generalidade dos analistas apontem como quase certo que nenhum alvo norte-americano, incluindo os seus navios e bases aéreas na região, será atingido, sendo a "fúria" de Teerão direcionada, como tem sido nos últimos oito dias, para Israel, com a possibilidade de alargar o leque de alvos elegíveis, passando dos locais de interesse militar e as infra-estruturas civis energéticas e de aviação comercial, para as infra-estruturas rodoviárias e marítimas, etc.

Recorde-se que na sua primeira reacção a esta entrada dos Estados Unidos na "sua" guerra, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, que tem aqui a sua maior vitória, que foi arrastar Washington para o conflito que desencadeou a 13 deste mês, com um surpreendente ataque ao Irão, disse, com euforia, ser este "um momento histórico".

"O ataque dos Estados Unidos vai mudar a História do Médio Oriente para sempre", congratulou-se Netanyhau, ao mesmo tempo que elogiava Donald Trump pela sua "ousada decisão".

Do lado iraniano, uma das questões em cima da mesa, e que agora encaixam na definição de todas as possibilidades em cima da mesa do ministro Abbas Araghchi, são a saída do Irão do tratado internacional de não-proliferação nuclear, de que faz parte, mas não é o caso de Israel, que, efectivamente, possui centenas de ogivas nucleares.

A outra é a "bomba atómica" iraniana que seria fechar o Estreito de Ormuz, o que levaria a uma crise global sem precedentes, devido à sua importância no negócio mundial de petróleo e gás, porque por ali passa mais de 22% do crude mundial além de uma parte substantiva do gás natural e que a China deverá desaconselhar com ênfase própria, até porque seria uma das grandes "vítimas".