Com o evoluir do conflito israelo-iraniano, que já vai no 4º dia de intensos ataques e contra-ataques desde que Israel deu, na sexta-feira,13, o tiro de partida para a mais séria guerra de sempre no Médio Oriente, os efeitos na guerra da Ucrânia começam a fazer-se sentir com intensidade.

Isto, porque, para além de os EUA terem, como o secretário da Defesa, Pete Hegseth, confirmou, desviado para Telavive centenas de misseis para os sistemas de defesa anti-aérea Patriot que deviam seguir para Kiev, o ataque israelita aos locais de interesse nuclear do Irão podem atingir em cheio a Ucrânia.

É que as centrais de enriquecimento de urânio com que o Irão diz estar a preparar o seu programa nuclear de uso civil, e Israel garante ser para obter uma arma nuclear, estão a centenas de metros sob o solo, o que só pode ser atingido com bombas que apenas os EUA possuem.

E se os Estados Unidos colocarem os seus bombardeiros estratégicos B-2 ao serviço de Israel para largar as MOAB (Mãe de todas as bombas, na sigla em inglês) sobre esses locais estratégicos para o Irão, como referem alguns analistas, então estar-se-á perante um ataque norte-americano a uma instalação nuclear de um aliado, com parceria estratégia de Defesa assinada e activa, da Rússia.

O que significa que Moscovo pode mudar a estratégia no âmbito do conflito na Ucrânia, onde tem mantido as centrais nucleares ucranianas, um aliado dos EUA, fora do mapa dos seus alvos, passando a atacar essas centrais, cinco activas em toda a Ucrânia, o que significaria não apenas a redução a zero da electricidade disponível no país, como poderia constituir um gigantesco problema ambiental.

Mas o que mais inquieta o regime em Kiev é a evidência de que o conflito israelo-iraniano está a desviar, ainda mais, o apoio vital dos países ocidentais à Ucrânia, especialmente os misseis dos sistemas de defesa anti-aérea Patriot norte-americanos, dos quais depende a quase totalidade da protecção da capital do país e dos seus locais de maior relevância estratégica.

Isto, quando, segundo o jornal britânico The Guardian, as forças russas estão a conseguir avanços relevantes nas frentes de guerra no norte, em direcção à cidade de Sumy, no caminho de Kiev, e em Kupiansk, na região de Donetsk, CHasiv Yar e Toretsk, todas vitais para Moscovo conseguir conquistar os seus objectivos principais.

Além disso, provavelmente para aproveitar este momento de fraqueza em Kiev, o Presidente russo, Vladimir Putin, na conversa que manteve com o homólogo norte-americano, Donald Trump, no fim-de-semana, voltou a mostrar-se disponível para reatar as conversações com os ucranianos que desmoronaram com o ousado ataque com drones de Kiev às bases aéreas estratégicas da Rússia, há duas semanas.

Com esta demonstração de boa-vontade de Putin, e com o esmorecer do apoio ocidental aos ucranianos, começa a desenhar-se, como notam alguns analistas, uma percepção mais clara em Kiev de que é preciso evitar o beco sem saída que seria ficar perante o poderio russo sem o apoio ocidental, o que parece ser o caminho que está a ser seguido desde que as atenções dos aliados de Zelensky se viraram para Israel.

De acordo com The Guardian, a conversa de Sábado entre Putin e Trump, que o russo iniciou sob pretexto de dar os parabéns ao americano pelo seu 79º aniversário, teve como ponto forte o Médio Oriente, mas serviu também para acertar agulhas sobre a Ucrânia e, segundo a Casa Branca, o chefe do Kremlin disse ao seu homólogo estar disponível para uma nova ronda negocial com Kiev.

Essa ronda negocial pode ter lugar logo que termine o processo de troca de prisioneiros de guerra e a Rússia entregue o restante dos seis mil corpos de soldados ucranianos em sua posse, tendo ambos concordado, segundo escreveu Trump na sua Truth Social, na necessidade de conduzir ambos os conflitos para um epílogo.

Nos vários pronunciamentos feitos por Zelensky após esta conversa entre Putin e Trump não se ouviu qualquer referência a uma nova ronda negocial, embora tenha admitido que assim que estiver concluída a troca de prisioneiros e de corpos de soldados, "haverá uma definição de qual o próximo passo" entre ambos os lados, concluindo com um apelo a Donald Trump para acabar com o "tom amigável" com que se refere sempre à Rússia.

E numa tentativa de manipular as decisões da Casa Branca, Zelensky, ainda citado pelo jornal britânico, disse que os EUA devem ter cuidado com o conflito israelo-iraniano, porque uma escalada nos preços do crude será prejudicial para a economia norte-americana e será um enorme benefício para os russos.

Isto, quando, depois de o FMI ter admitido uma saúde inesperada da economia russa, com um crescimento claramente acima das expectativas ocidentais depois de aplicadas milhares de sanções de 17 pacotes sucessivos, o Instituto Económico Alemão, segundo cita a RT, vem dizer agora que as exportações russas estão a crescer de forma significativa.

Em 2024, diz ainda este instituto germânico, as exportações da Federação Russa para os seus 20 principais mercados, cresceu 18% comparado com 2021, o ano anterior ao início da invasão russa, no que é um dado que determina o insucesso das sanções ocidentais a Moscovo.

Este dado está a ser visto como extraordinário porque o crescimento de 2024 é comparado com um período prévio a 24 de Fevereiro de 2022, quando os russos avançaram sobre as fronteiras ucranianas num contexto de pré-guerra civil no Donbass como rescaldo do golpe de Estado de 2014, apoiado pelos EUA e Europa ocidental, para depor o então Presidente pró-russo Viktor Yanukovich.

O Instituto alemão nota que este sucesso russo para a sua economia só é possível devido à habilidade de Moscovo em encontrar fragilidades nas sanções que os agentes económicos russos aproveitam para explorar novos mercados e fortalecer a produção interna.