O líder do PSD, a AD dilui-se após o anúncio oficial dos resultados, vai tomar posse a 02 de Abril, mantendo-se até lá na condição de primeiro-ministro indigitado enquanto o socialista António Costa mantém o cargo de primeiro-ministro em exercício até essa data.

Com esta chegada ao poder da direita e centro-direita, o Partido Socialista vê chegar ao fim um período de oito anos de governação, quando a expectativa seria de atingir a meta dos dez anos no poder porque o Governo de António Costa, de maioria absoluta, caiu devido a uma suspeita de irregularidades no exercício do cargo que o Ministério Público divulgou há cerca de quatro meses.

Com a AD a chegar à frente, com 28,02 dos votos e 80 deputados, e o PS em segundo lugar, com 28% e 78 deputados, o Chega, o partido da extrema-direita xenófoba e acusado de ser racista pela esquerda portuguesa, com 18% e 50 deputados é um dos grandes vencedores deste pleito eleitoral naquele país europeu.

Portugal é o país europeu com as ligações de proximidade mais intensas com Angola, seja pela via histórica, seja pela realidade actual, onde Lisboa é, de longe, o principal destino dos angolanos no mundo, e onde esta instalada a maior comunidade no espaço europeu.

O elenco governativo de Luís Montenegro vai ser conhecido a 28 de Março, quando este regressará ao Palácio Presidencial de Belém para apresentar ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa os nomes que vão integrar o Conselho de Ministros.

Tradicionalmente, Portugal mantém a tradição de, em questões de política externa, manter o princípio da continuidade, pelo que não é de esperar alterações nas relações entre Lisboa e Luanda, nem com quaisquer outros países do continente.

Há, no entanto, uma porta entreaberta para que essa norma possa ser afectada nos próximos tempos porque, sendo um Governo minoritário, a instabilidade será constante e o risco de novas eleições antecipadas é grande.

Nesse caso, a generalidade dos analistas da política portuguesa admitem que o Chega, o partido radical e extremista da direita portuguesa, que obteve a maior subida no universo eleitoral luso, possa conseguir um resultado ainda maior e ser inevitável a sua entrada no Governo.

E nesse caso, dificilmente o princípio da continuidade na política externa portuguesa se manterá, sendo expectável que sofra uma alteração substancial, até porque o líder do Chega não esconde que esta questão, nos moldes actuais, o incomoda, especialmente nas relações com África.

Um exemplo dessa postura aconteceu há poucos meses, quando André Ventura considerou "ultrajante para a história de Portugal" o investimento português na reabilitação do forte de São Francisco do Penedo, província de Luanda, no valor de 34 milhões de euros.

A isto soma-se a questão da imigração, que o Chega insiste em considerar responsável pela criminalidade que existe em Portugal, quando todos os estudos negam essa ligação e quando Portugal está nos lugares cimeiros dos países mais seguros do mundo.