Os quatro deputados dos círculos eleitorais da Europa e de fora da Europa, onde os votos em Angola podem influenciar os resultados finais, matematicamente ainda são suficientes para dar a vitória ao PS de Pedro Nuno Santos, embora este já tenha assumido a derrota.

Em 2022, estes dois círculos eleitorais deram dois deputados ao PS e dois ao PSD, o partido que agora lidera a AD, a coligação formada com o CDS-PP, o que é improvável que se repita, porque existe uma forte probabilidade de o Chega conseguir um destes eleitos.

O Chega, o partido de direita radical e xenófoba, liderado por André Ventura (na foto), é mesmo o grande vencedor destas eleições, subindo para os 18,6%, contra os 7,15% em 2022, passando de 12 para 48 deputados, sendo agora fundamental para uma maioria de Governo de direita.

Com os votos contados até ao momento - os resultados finais serão conhecidos a 20 de Março, com os círculos da emigração -, 29,49% para a AD e 28,66 para o PS (que vem de uma maioria absoluta), o Parlamento português dificilmente será um lugar de paz política nos próximos dias, semanas e até meses.

Isto, porque a AD de Luís Montenegro poderá formar Governo em minoria, mas arrisca ver a sua Governação limitada votação após votação, se não conseguir um acordo mínimo com o Chega de André Ventura, com quem garantiu repetidamente ao longo da campanha que jamais fará uma maioria para Governar.

E, por outro lado, André Ventura, já disse que só aceita dar o seu apoio à AD se for parte do Conselho de Ministros, o que deixa em aberto como forte possibilidade que Portugal volte a ter de ir às urnas para solucionar este problema.

Para já, nas suas primeiras palavras, Montenegro voltou a insistir que vai formar Governo em minoria e espera que o PS e o Chega não se constituam como uma coligação negativa para derrubar o seu Governo, dizendo que espera agora que o Presidente da República o indique para formar o Executivo.

André Ventura avisou que a solução está agora nas mãos do líder da AD a quem desafiou a negociar com ele uma solução de Governo ou sujeitar-se às consequências.

E o líder dos socialistas, Pedro Nuno Santos, repetiu o que foi dizendo ao longo da campanha, que é que o PS não será o garante de um Governo de direita, deixando no ar a ideia de que não vai dar o seu apoio a um Programa de Governo porque a isso é o Chega que está obrigado.

E assumiu a liderança da oposição, prometendo que não vai ceder a posição de lider da oposição ao Chega, a quem se referiu como sendo o pilar natural do susporte para o Governo da AD.

Uma estranhice do lado do PS aconteceu quando o ainda primeiro-ministro e anterior lider, António Costa, veio assumir as responsabilidades dsa derrota, obrigando, depois, Pedro Nuno Santos a vir a terreiro dizer que é ele o "chefe" e que já tinha assumido tanto a derrota como a responsabilidade por ela enquanto secretário-geral.

Com os resultados actuais, faltando quatro deputados da diáspora para preencher os 230 lugares da Assembleia da República, a AD já soma 79 deputados, o PS 77 e o Chega 48.

Nos restantes partidos, nenhum pode cantar vitória. A Iniciativa Liberal conseguiu oito deputados, os mesmos que na anterior composição parlamentar; já a histórica CDU, que agrega o Partido Comunista Português (PCP) e Os Verdes, é o maior perdedor, passando de seis para quatro deputados, os mesmos que o Livre, que tinha apenas um, ambos com menos um que o Bloco de Esquerda, que manteve os cinco... O PAN, que tinha um deputado, permanece com o lugar único no hemiciclo.

Em síntese, o Chega de André Ventura, face à escassa diferença entre a D e o PS, é o grande vencedor da noite eleitoral em Portugal, ganhando o lugar desejável em política de ter nas suas mãos o poder de decidir quem, como e em que condições haverá um Governo.

Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que está a ser fortemente criticado pela esquerda, por ter dissolvido o Parlamento há quatro meses devido à demissão do primeiro-ministro António Costa quando podia ter dado posse a outro nome indicado pelo PS, tem agora a batata quente nas mãos.

Porém, alguns analistas já admitem que um Governo de minoria da AD terá pouco tempo de vida e o mais natural é que o país volte a eleições no primeiro semestre de 2025, mais tardar.