Esta imagem (ver fotografia) mostra claramente como o M23 ganhou o conflito no leste da RDC (República Democrática do Congo) porque as forças da ONU estão a proteger a saída de militares congoleses de um território soberano congolês.

E isto, quando o Governo de Kinshasa e do Ruanda, país que há anos fornece apoio logístico e militar aos guerrilheiros como ferramenta para explorar ilegalmente os recursos minerais dos Kivu Norte e Sul, assinaram um acordo mediado pelos EUA de reconhecimento mútuo das respectivas soberanias territoriais.

Este acordo, que as notícias veiculadas pelos media congoleses referem nas últimas horas, foi precedido de outro assinado com mediação do Catar entre Kinshasa e os guerrilheiros determinando um cessar-fogo no leste congolês que foi quase de seguida furado pelo M23 (ver aqui).

E agora, depois de a RDC e o Ruanda terem desistido de forma abrupta e sem explicações prévias, o processo de Luanda que, mediado pelo Presidente João Lourenço, procurava estabilizar a região desde 2021, também o Presidente da Guiné-Bissau entra no xadrez da complexa diplomacia dos Grandes Lagos.

Umaro Sissoco Embaló esteve em visitas seguidas, primeiro no Ruanda, passando 48 horas em conversações com o seu homólogo em Kigali e o Governo de Paul Kagame, e, depois, viajou para Kinshasa, onde está esta quarta-feira, 30, reunido com o Presidente Felix Tshisekedi.

Após dos dois encontros Presidenciais, Sissoco Embaló falou com os jornalistas para dizer que os povos ruandês e congolês nada ganham com a continuidade da flagelação militar no leste da RDC, e que o caminho da paz é sempre o caminho mais rápido para o desenvolvimento.

Entretanto, em notícia da Radio Okapi, a mais eficiente frequência para chegar à realidade do terreno na longínqua região do leste congolês, as Forças Armadas da RDC (FARDC), que precisaram do apoio da MONUSO para saírem de território congolês, saudaram esse apoio para chegarem em segurança a Kinshasa.

Na coluna protegida pelas forças da ONU deixaram Goma em direcção a Kinshasa, ainda segundo a rádio criada pelas Nações Unidas em 2002, centenas de militares e polícias da RDC, bem como as suas famílias, que estavam na capital do Kivu Norte aquando da sua tomada pelas armas dos guerrilheiros do M23.

Apesar desta humilhação, o Presidente da RDC considerou, numa conferência de imprensa com o guineense Sissoco Embaló, que a Declaração de Princípio assinado com o Ruanda "é um passo na boa direcção".

Nesta quarta-feira, 30, está ainda a ser noticiado em Kinshasa que Tshisekedi disse que o acordo com Kigali é o que sempre perseguiu para a RDC, especificando que é um "empenho em nome do país e do povo congolês" porque o seu objectivo é a paz.

"Mas uma paz verdadeira e definitiva que garanta a estabilidade para a RDC para sempre", apontou o Chefe de Estado congolês, deixando claramente no ar a ideia de que existe uma possibilidade de que a estabilidade pode ter como factura a cedência de territórios ad hoc a Kigali.

Entretanto, as forças militares que os países da SADC enviaram para a região com a missão de vigiar os cessar-fogo anteriores estão a deixar a região do leste da RDC através do Ruanda por etapas, sendo que esse processo devera estar concluindo dentro de semanas, avançam as agências.

Estas unidades militares integravam a SAMIDRC, a missão da SADC para a RDC, que contavam com uma unidade angolana que chegou a ter 500 militares, e foi criada em 2023, sem que tenha conseguido concluir a sua missão.

Alias, a SAMIDRC foi quase inoperacional ao longo da sua presença, embora tenham sido mortos vários dos seus elementos, pelo menos 20, nomeadamente sul-africanos, tanzanianos e malauianos.