Esta saída de cena de Truss, que já era esperada, devido à sucessão de decisões políticas que se revelaram não só erradas mas como motivo de chacota em quase toda a comunicação social britânica, deverá agora, embora legalmente não seja obrigatório, dar lugar a eleições antecipadas e a "natural" chegada dos trabalhistas ao poder.
Numa declaração à porta da residência oficial de Downing Street, em Londres, Liz Truss adiantou que um sucessor será encontrado até ao fim da próxima semana, o que perspectiva a possibilidade de os conservadores estarem, ainda assim, e apesar das trapalhadas dos sucessivos Governos de Boris Johnson e Truss, a pensar em encontrar um novo primeiro-ministro dentro do partido, retardando a caminhada dos trabalhistas de Keir Starmer, para o poder.
Se assim suceder, o Reino Unido entra de novo num processo de "stand by" enquanto os conservadores não definem uma nova liderança... para a qual ainda não há candidatos assumidos, mas que se adivinha poder levar ao 10 de Downing Street o antigo ministro das Finanças de Johnson, Rishi Sunak, derrotado por Truss na luta pela liderança do Partido Conservador.
Keir Starmer rapidamente pediu eleições legislativas no Reino Unido devido à crise política, afirmando a urgência de tal acontecer com a crise económica e financeira galopante que tomou conta do reino.
No momento da saída, Liz Truss disse reconhecer não poder cumprir o mandato por falta de condições políticas.
Mas esta demissão tem ainda um forte potencial de gerar consequências externas, porque Truss era a governante europeia mais renhida apoiante da Ucrânia na guerra com a Rússia, a par da presidente da comissão europeia, Ursula Leyen.
E isso levará inevitavelmente a ilações, até porque a crise económica que assola o Reino Unido, e que deitou ao chão Truss, é resultado directo da guerra no leste europeu, para a qual Londres aparece desde o primeiro minuto como o principal alimentador, a par de Washington, instigando Kiev a manter acesas as batalhas até à derrota dos russos, como dizia abertamente, com apoio da agora demissionária primeira-ministra, o seu antecessor, Boris Johnson.
O Reino Unido está a viver um período de inflação recorde de 40 anos, nos 10,1 por cento e uma queda igualmente histórica da sua moeda, a Libra, face ao dólar, embora, com esta demissão, a "esterlina" tenha dado novo sinal de vida, com uma subida imediata.