E a tradução que o próprio escolheu para esta expressão, "new Dawn", foi debelar definitivamente o problema da corrupção e avançar para uma profunda redistribuição de terras.

"New Dawn", ou despertar/amanhecer , foi uma expressão que teve enorme peso no início da década de 1990, quando Nelson Mandela guiou o povo para uma transição que muitos consideravam impossível de ser feita sem banhos de sangue contínuos até não restar um sinal do sistema racista do apartheid que governou o país desde 1948.

E não é coincidência a escolha de Cyril Ramaphosa, de 65 anos, que sucede a Jacob Zuma na Presidência, depois de nove anos de exercício desprestigiante do poder na "Nação arco-íris", mas que já deveria, se a vontade de Nelson Mandela tivesse sido respeitada, ter sido Presidente quando o histórico combatente deixou a Presidência, tendo o seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), escolhido antes Thabo Mbeki.

E foi assim que o preferido de Mandela só chegou ao poder agora, sucedendo a Zuma, que, entre a espada (um moção de censura em curso" e a parede (o peso da justiça a pesar-lhe na cabeça, com o regresso de acusações e suspeitas de corrupção), se viu obrigado a aceitar sair pela porta dos fundos resignando ao cargo.

Mas também isso não acontece por acaso, segundo alguns analistas sul-africanos, porque Ramaphosa é tido como um homem incorruptível, é dono de uma imensa fortuna, calculada em mais de 450 milhões de dólares, incluindo o McDonalds South Africa no seu império empresarial, e ao fim de décadas de apartheid a elite do ANC ansiava ter espaço para poder enriquecer, o que seria mais difícil com um homem com estas características no poder.

Criar empregos, robustecer a economia

Num cenário de quebras em quase todos os índices de desenvolvimento humano, e com a sua economia em acelerada degradação, Ramaphosa apanha o país a precisar de medidas urgentes para dar a volta e voltar a ser, ou ser ainda mais, um farol para o continente, propondo-se, de imediato, como afirmou no primeiro discurso apos ter sido empossado, avançar com medidas para criar empregos e promover o crescimento económico.

Como se sabe, Cyril Ramaphosa, lembrou que a África do Sul enfrenta a necessidade de tomar decisões complexas para poder reverter a sua economia estagnada e uma enorme dívida, que perigam o futuro do país, sempre à beira de convulsões sociais devido aos problemas sociais que, tendo transitado do apartheid, muitos consideram tardar excessivamente a sua resolução, como a pobreza extrema em algumas comunidades, injusta distribuição de rendimentos, grande diferença entre ricos e pobres, corrupção, peculato...

O desemprego na juventude foi um dos pontos que mais destacou no primeiro discurso, apontando a resolução desse problema como uma das suas prioridades.

"Estamos determinados a erguer uma sociedade definida por critérios de decência e integridade, que não tolera o desvio de recursos públicos nem o roubo por corporações criminosas, que estão literalmente a tirar o pão da boca do povo", disse.

A chegada ao poder deste antigo companheiro de estrada de Mandela, que desempenhou um papel essencial nas negociações para a transição do apartheid para a democracia, que liderou o mais poderoso dos sindicatos dos mineiros, está a ser visto na África do Sul, como se pode concluir da imprensa do país de hoje, como uma derradeira oportunidade para que a África do Sul não caminhe e direcção do desmembramento das suas instituições, como aonteceu no Zimbabué na última década.