A Tunísia vive há largos meses um ciclo de violência contra os migrantes subsaarianos que escolhem este país para trabalhar, especialmente nos sectores agrícolas e têxtil, ou como passagem para a Europa.

O próprio Presidente Kais Saied (ver links em baixo nesta página) já foi fortemente criticado por organizações de defesa dos Direitos Humanos locais e internacionais devido a declarações xenófobas e racistas acusando os subsaarianos de estarem a querer "substituir" os tunisinos na sua própria terra.

Agora, e depois de vários episódios de agressões gratuitas e injustificadas a migrantes negros vindos dos países subsaarianos, as coisas agravaram-se com a detenção de três camaroneses acusados de terem esfaqueado até à morte um homem de 41 anos, na cidade portuária de Sfax.

Depois de novos levantamentos populares contra os migrantes na terça-feira, onde participaram, um pouco por todo o país, milhares de tunisinos, as forças policiais estão a ser acusadas por ONG"s locais de terem detido (ver foto) sem justificação um número elevado de "africanos" expulsando-os para a Líbia, a mais de 200 kms de Sfax, nma zona desértica e sem condições mínimas de subsistência.

No funeral do homem que foi alegadamente esfaqueado por três camaroneses, centenas de jovens tunisino entoavam cânticos prometendo vingar a morte do cidadão e perseguir os subsaarianos.

Esta situação é potencialmente um desastre porque Sfax é, precisamente, uma das zonas da Tunísia mais procurada pelos migrantes, por um lado por ser uma cidade industrial e de forte procura por mão de obra barata subsaariana, e, por outro, porque é desta zona da costa tunisina que partem muitos milhares de embarcações com destino à Europa carregadas de migrantes subsaarianos, mas também asiáticos, nomeadamente paquistaneses e afegãos.

Durante os protestos, milhares de jovens tunisinos exigiam a expulsão dos migrantes.

A razão para que a população tunisina mais velha não alinhe da mesma forma nestas manifestações xenófobas é, em grande medida, segundo vários analistas, resultado da consciência que têm de que também os tunisinos são alvo de fúria xenófoba noutras latitudes, como em França.

Naquele país europeu reside uma numerosa comunidade tunisina desde a década de 1960, sendo hoje os descendentes dessa geração de migrantes magrebinos (tunisinos, argelinos e marroquinos) que estão no centro dos violentos protestos após a morte do jovem de 17 anos, Nahel, de origem argelina, na passada semana, em cidades como Paris, Marselha ou Lion. (ver links em baixo nesta págin).