Antes de acontecer, a cimeira entre Donald e Kim está destinada a ser um sucesso mediático global e o americano já disse que só vai precisar de "cinco segundos" para perceber se o norte-coreano, a quem chamou de "pequeno homem foguete" e de quem ouvir ser apelidado de "velho tonto, será um amigo para a vida ou alguém que não vai querer voltar a olhar nos olhos.

Para trás ficam longos meses em que, como nunca, nem na Guerra Fria, o mundo ficou em suspenso de um eventual ataque massivo dos EUA à Coreia do Norte por causa dos avanços no seu programa de desenvolvimento de armas nucleares.

A Coreia do Norte verá "fogo e fúria como o mundo nunca assistiu", disse Trump. Os EUA serão "mergulhados num mar de fogo", disse Jong-un. Isto foi em meados de 2017.

Entretanto, a Coreia do Norte consolidou o seu arsenal nuclear, é hoje uma potência nuclear reconhecida, mas Kim Jong-un aceitou, já este ano, encontrar-se com o seu homólogo da Coreia do Sul, Moon Jae-in, abrindo uma nova frente de esperança para que a sombra do desastre nuclear sobre a Península Coreana começa-se a ser dissipado.

Esse encontro decorreu com sucesso, mas tudo ficou pendurado na exigida aproximação também aos Estados Unidos.

Singapura foi o local escolhido para que Kim Jong-un também se senta-se à mesa com Donald Trump. A data marcada foi 12 de Julho, amanhã, o que vai acontecer com pompa e circunstância, apesar de ter sido unilateralmente anulada por Trump e voltado aos eixos logo a seguir.

Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, mas Trump apareceu junto dos jornalistas entusiasmado, dizendo que está convencido que "as coisas vão correr na perfeição", embora a sua exigência seja muito difícil de aceitar por Kim, que é a completa desnuclearização da Península Coreana.

Ainda para mais, Trump tem habituado o mundo a entrar e sair de acordos com a rapidez de um foguete, como foi o caso da própria cimeira com Jong-un, mas também no acordo nuclear com o Irão, ou ainda, neste fim-de-semana, numa reunião do grupo dos 7 países mais industrializados do mundo, realizada no Canadá, o G7, onde horas depois de assinar um acordo sobre comércio global, o denunciou e saiu, deixando toda a gente de boca aberta, acusando o primeiro-ministro do Canadá, anfitrião, de traição.

Uma coisa é certa, a Coreia do Norte precisa de avanços económicos e o que Trump lhes prometeu foi isso mesmo, grande desenvolvimento económico e social em troca da destruição das suas armas nucleares.

O problema é que já dois lideres fizeram o mesmo tipo de acordos e acabaram humilhados e mortos em público, Muammar Kaddafi, da Líbia, e Sadam Hussein, do Iraque, que desistiram dos seus programas nucleares depois de acordos assinados com a comunidade internacional, liderada pelos EUA. Kim Jong-un sabe disso e não aceitará qualquer acordo do género sem garantia total de segurança para o seu regime de poder absoluto.

A Coreia do Norte foi mesmo avisada para esse perigo pelo Presidente russo, Vladimir Putin, embora encontros recentes com o Presidente chinês, Xi Jinping, possam ter garantido a Kim Jong-un garantias de protecção sólidas, tanto militares como económicas, mas isso saber-se-á amanhã, quando Kim e Donald se sentarem à mesa, em Singapura, num luxuoso hotel da cidade que vive por estes dias um fervilhar próprio de um evento de dimensão universal, como a brincadeira que se pode ver na fotografia.

Brincadeiras à parte, Kim conseguiu aquilo que muitos pensa ser o seu grande objectivo deste o início da crise: sentar-se à mesa das negociações com a arma nuclear devidamente testada e confirmada, com acesso garantido para o concerto das nações, não como "persona non grata" mas como "primus inter pares".

Mas não está afastada a hipótese de tudo correr mal, porque Trump garantiu já que abandona a cimeira se perceber que as coisas não estão a caminhar na direcção certa.