O mais conhecido dos divulgadores de matérias sensíveis para um conjunto alargado de países e multinacionais, ou figuras conhecidas em todo o mundo, desde acusações de corrupção até provas de crimes de branqueamento de capitais ou de guerra, foi detido de acordo com um mandato de captura que já existe praticamente desde que se refugiou na embaixada do Equador, na capital do Reino Unido, quando era Presidente do país Rafael Correa.

Um dos casos mais conhecidos foi um vídeo onde se pode ver um grupo de jornalistas iraquianos, incluindo da Reuters, foram abatidos por um helicóptero sem dó nem piedade, estando indefesos, mas que as autoridades norte-americanas tinham anteriormente justificado com o "facto" de o grupo estar armado.

Com a mudança de poder em Quito, onde Lenin Moreno, ao contrário da postura ideológica liberal do antecessor, assumiu a Presidência do país posicionando-se mais à direita, apesar de ter sido vice-Presidente de Rafael Correa entre 2007 e 2017, Julian Assange começou a ver a sua vida a andar para trás.

Moreno assumiu desde o início que não estava para ter a paciência que Correa tinha tido com Assange, ameaçando retirar-lhe o asilo político - apesar de ter nacionalidade equatoriana - que lhe dava garantias de segurança na embaixada Londres, sempre com a pressão norte-americana presente no sentido de criar condições para a detenção e posterior condenação do mais conhecido programador de software.

Com actualmente 47 anos, Assange fundou a WikiLeaks em 2006 e ficou conhecido por ter divulgado milhares de documentos sensíveis e fortemente comprometedores para as chefias militares de Washington, retirados pelo soldado norte-americano Manning dos sistemas informáticos das Forças Armadas dos EUA.

Sem capacidade para deter Julian Assange pela divulgação dos ficheiros de Manning, a Justiça norte-americana e o Governo norte-americano criou, com a Suécia, uma frente contra o programador e divulgador na internet de material comprometedor, baseada na alegada violação de uma jovem sueca, que o próprio sempre negou e sobre cujo crime sempre houve sérias dúvidas quanto à sua veracidade, mas que lhe valeu um mandato de captura internacional que agora permitiu à Scotland Yard (polícia britânica) proceder à sua detenção no interior das instalações diplomáticas do Equador depois da "traição" do Presidente Moreno.

Assange sempre afirmou que a verdadeira intenção das autoridades suecas era proceder à sua extradição para os EUA, onde desde 2018 se sabe que está secretamente acusado de ter divulgado ilegalmente material secreto e comprometedor da segurança nacional, embora, formalmente, não exista nenhum processo a correr. E na Suécia, as acusações formais já foram retiradas.

Na internet já existem vários vídeos onde Assange é visto a ser arrancado do interior da embaixada do Equador, tendo sido, segundo comunicaram as autoridades de Londres, convidada a polícia a entrar nas instalações diplomáticas, que, para todo os efeitos, é território equatoriano.

Lenin Moreno publicou nas redes sociais que retirou a protecção a Julian Assange por este "violar reiteradamente as convenções internacionais e o protocolo de convivência", embora tenha assumido que só o fez depois de o Reino Unido ter dado garantias de que o informático de origem australiana agora detido não será extraditado para um país onde possa ser sujeito a tortura ou à pena de morte.

Na primeira reacção da WikiLeaks, o Equador é acusado de ter actuado de forma ilegal ao retirar o asilo a Assange, tendo violado a lei internacional de forma clara e evidente., tendo sucedido um dia depois de a organização fundada pelo australiano ter acusado a embaixada de estar a espiá-lo á longos meses.

O fundador da WikiLweaks vai ser presente, nas próximas horas, a um juiz em Londres.