Considerando que se trata de "uma catástrofe humanitária provocada", o responsável europeu foi à sede das Nações Unidas dizer ao Conselho de Segurança que a brutal crise humanitária em Gaza resulta da opção feita nesse sentido pelo Governo israelita de Benjamin Netanyhau.

"Não se trata de um desastre natural, uma inesperada inundação, um terramoto, o que se passa na Faixa de Gaza é uma catástrofe provocada por pessoas", disse, citado pelas agências, salientando que se tratam de opções do Governo de Israel.

Com cinco meses e meio de guerra em Gaza, as forças de defesa de Israel (IDF) já destruíram 80% de todos os edifícios, públicos e habitações, em Gaza, mataram 31 mil pessoas, mais de 70 % destas são crianças e mulheres, e montaram um cerco férreo ao território.

Com esse cerco, que se traduz por manter fechadas as fronteiras entre Israel e Gaza e limitam ao ponto da inutilidade a entrada de ajuda pela fronteira de Gaza com o Egipto, o único ponto de acesso viável, forçando vistorias intermináveis aos camiões carregados com bens alimentares.

Gaza é uma faixa de território com 365 kms2, com uma extensão de 40 kms por 9 kms de largura, onde "vivem" 2,3 milhões de pessoas, na sua esmagadora maioria dependente há décadas de ajuda humanitária que Israel impede de entrar desde 07 de Outubro de 2023.

Depois de milhares de mortos provocados pelos bombardeamentos pelo ar e mar, e depois com a invasão terrestre, com a qual as IDF ocuparam já a totalidade do território, agora o Governo radical de extrema-direita de Benjamin Netanyhau está a mar palestinianos pela fome.

Estas acusações de atrocidades estão a ser repetidas há meses pelo Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e agora também pela União Europeia, numa evidência de que os repetidos relatos deste desastre humanitário não é uma ficção criada pelos media.

A estas vozes, pouco a pouco, foram-se juntando as dos principais aliados de Israel, como o Reino Unido e a França, que não se opuseram às condenações a Israel no Conselho de Segurança, onde, como sempre, os EUA vetaram as resoluções condenatórios de Telavive.

Mas até os Estados Unidos começam a claudicar na sua postura de defesa intransigente de Israel, com o Presidente Joe Biden a condenar a falta de flexibilidade israelita para permitir a ajuda à população civil em Gaza e a ordenar o aumento do envio de ajuda por via aérea para contornar o cerco israelita.

Quando confrontado com este cenário de terror em que coloca mais de 2 milhões de civis, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recusa baixar as armas e garante que vai manter Gaza sob forte pressão militar até que o Hamas, o movimento islâmico que gere Gaza, esteja totalmente destruído.

A este objectivo de destruir o Hamas, responsável pelo assalto violento de 07 de Novembro do ano passado ao sul de Israel, deixando um rasto de terror e mais de 1.200 mortos, o que motivou a operação militar ainda em curso dos israelitas, Netanyahu junta ainda a libertação dos reféns e garantir que Gaza deixa de ser uma ameaça para o seu país.

Todavia, destes três objectivos enunciados pelo primeiro-ministro israelita no início desta guerra, ao fim de quase seis meses de guerra contra militantes do Hamas armados com amas ligeiras e pouco mais, nem um foi conseguido.

Isto, apesar de Israel ser uma das maiores potências militares mundiais e com acesso ilimitado ao arsenal militar mais moderno dos Estados Unidos, incluindo os aviões de guerra mais sofisticados, os F-35, com que bombardeia incessantemente Gaza.

Talvez por isso, depois de mais de cinco meses de guerra, recorrendo aos mais de 350 mil militares colocados nesta operação, do uso intensivo de artilharia e sistemas de misseis terra-terra, do mais sofisticado que a indústria militar norte-americana produz, da aviação mais moderna e da sua marinha de guerra a fustigar o território a partir do Mediterrâneo Oriental, Israel, como aponta o chefe da diplomacia europeu, esteja a recorrer "à fome como arma".

"A fome está a ser usada por Israel como arma. Porque quando condenamos de forma veemente o que se passa na Ucrânia, temos de usar as mesmas palavras fortes para o que se passa em Gaza", apontou Josep Borrell.

Sem cessar-fogo no horizonte... e jornalistas como alvos

Para extremar ainda mais esta situação de catástrofe humanitária, alé de usar a fome como arma, Israel escolheu como método para manter esta situação o mais longe possível dos ecrãs dos grandes canais de televisão internacionais, o abate deliberado e sistemático de jornalistas a trabalhar em Gaza.

Até ao momento, segundo as organizações internacionais, como o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), ou os Repórteres Sem Fronteira (RSF), ou ainda os relatos a partir do terreno citados pela Al Jazeera, entre outros, já foram mortos pelas IDF mais de uma centena de jornalistas nesta guerra.

Mas são os que heroicamente permanecem no terreno, a maioria a trabalhar para media árabes, como a Al Jazeera (do Qatar) ou a Al Arabia (saudita), além de jornalistas a transmitir para canais nas redes sociais, que chegam ao resto do mundo as imagens excruciantes de crianças a morrer à fome nos braços das mães, igualmente subnutridas...

Estas imagens que chegam actualmente de Gaza são comuns em situações de catástrofes naturais, como as secas em algumas partes do mundo, mas quando provocadas pelo "Homem" só em situações como os campos de concentração da Alemanha nazi de Hitler, nos campos de trabalho forçado de ditadores comunistas do sudeste asiático ou em casos de terror gerados por doentes mentais...

Com o ruidosamente anunciado acordo para um cessar-fogo, inclusive pelo Presidente dos EUA, negociado no Egipto entre Israel e os representantes do Hamas, intermediado pelo Qatar e EGipto, a falhar, este cenário de terror vai continuar.

Segundo fontes do Qatar citadas por The Guardian, Israel e o Hamas estão cada vez mais longe de chegar a um consenso para elaborar um acordo de cessar-fogo, devido a posições extremadas de um e do outro lado.

No entanto, as negociações continuam e o poto de desacordo mais rugoso é a exigência de Telavive para a libertação de todos os reféns na posse do Hamas, perto de 120 que foram levados para o território a 07 de Outubro, enquanto o Hamas diz que só com um cessar-fogo permanente esse cenário pode ser equacionado.

Além disso, Israel quer o Hamas fora de Gaza com garantias dos países árabes e o Hamas exige a libertação de centenas de palestinianos, alguns com passado de liderança política no movimento palestiniano, que se encontram nas cadeias israelitas, muitos deles sem acusação ou condenação, o que faz deles mais reféns que prisioneiros.

Para atenuar este cenário de terror que faz lembrar os cercos medievais às cidades como forma de as obrigar à rendição pela fome e pela doença, organizações internacionais estão a desafiar as forças israelitas enviado navios com ajuda humanitárias para a costa de Gaza, a partir do Chipre, igualmente no Mediterrâneo Oriental.

Estas embarcações poderão em breve usar como cais um pontão artificial que está a ser construído pelos Estados Unidos.