Num discurso agendado para esta tarde, que estava a ser antecipado pelos analistas como o prenúncio de uma declaração de guerra a Israel por causa da ofensiva em Gaza, que foi despoletada logo após o assalto do Hamas ao sul de Israel a 07 de Outubro, Nasrallah não confirmou as mais dramáticas antevisões, mas não deixou créditos por mãos alheias.
Acusou Israel de não ter conseguido qualquer sucesso no seu esforço de guerra em Gaza, disse que as Brigadas Al Qassam, o braço armado do Hamas, demonstraram as "fraquezas de Israel" no dia 07 de Outubro.
Mas, mantendo o sentido afinado na ideia de que é possível não deixar este conflito incendiar o Médio Oriente ao pedir aos países árabes que se esforcem mais para travar a mortandade israelita em Gaza, onde, segundo números mais recentres, já morreram mais de nove mil pessoas, um grande número destas eram crianças, e mais de 30 mil ficaram feridas, em contraste com os 1400 israelitas mortos e dois mil feridos no ataque do Hamas.
No entanto, segundo analistas imediatamente ouvidos pelos canais internacionais, como a Al Jazeera, esta aparição de Hassan Nasrallah teve como fito principal dirigir-se aos EUA e à sua poderosa frota naval, com dois porta-aviões, enviada para a região, para que não dê um passo maior que a bota, advertindo para os riscos que correriam.
Esta mensagem dirigida a Washington não pode ser desligada da visita que, ao mesmo tempo, o chefe da diplomacia norte-americana, o secretário de Estado Antony Blinken, está a fazer a Telavive, a segunda desse 07 de Outubro, onde está para dar seguimento ao pedido do seu Presidente, Joe Biden, para Israel reduzir a ferocidade da sua ofensiva sobre Gaza de forma a poupar a vida de civis e permitir pausas humanitárias para acudir aos mais necessitados.
E, nesse mesmo passo, conduziu o monólogo para a ideia de que "todos os cenários estão em aberto", nomeadamente o crescendo da actividade militar na fronteira com Israel e, depois, se a isso o Hezbollah for "obrigado pelas circunstâncias", abrir uma nova frente de guerra aberta com as forças israelitas.
Deixou claro que o seu movimento já está nesta guerra de forma controlada mas não insignificante, defendendo que desde 08 de Outubro as suas unidades estão a manter uma cessa troca de fogo com os israelitas, provocando baixas do lado de lá da fronteira, admitindo 57 mortos entre as suas forças.
No entanto, apesar de uma retórica pesada e bem conhecida anti-israelita, que procura levar ao crescendo da frente regional contra este país, Nasrallah não mostrou nem vontade nem orientações para levar a faísca decisiva ao barril de pólvora que é o Médio Oriente, de onde sai diariamente 40% do petróleo consumido em todo o mundo.
Antecipadamente é possível dizer, segundo vários analistas, que esta intervenção do líder do Hezbollah, onde também garantiu não haver qualquer ligação do Irão ao ataque de 07 de Outubro, deverá ser enquadrada numa vasta operação diplomática em curso, que envolve todas as grandes potências, EUA, Rússia e China, bem como os países mais robustos militarmente da vasta região, como os sauditas, egípcios e iranianos, desencadeada nos últimos dias, de forma a robustecer a capacidade de travar qualquer risco acrescido de um alastramento da guerra.
Mas não escamoteou a possibilidade de fazer avançar os seus combatentes para um cenário de guerra aberta com Israel, que disse ter hoje "um governo estúpido e extremista" que não quer a paz e que ainda não percebeu que estáa perseguir um objectivo, uma vitória em Gaza, "que não pode atingir".
Entretanto, em Gaza (ver links em baixo nesta página), não há sinais de abrandamento dos ataques israelitas nem de qualquer retirada das forças terrestres que já cercaram a Cidade de Gaza e começaram a entrar na intrincada malha urbana onde se espera vir a ocorrer uma devastadora guerra rua a rua entre as IDF e os combatentes do Hamas.