Apesar de Mugabe ser actualmente uma irrelevância política no Zimbabué, o facto de ter gerido o país por quase quatro décadas, inicialmente como primeiro-ministro, entre 1980 e 1987, e depois como Presidente, até 2017, com mão de ferro e as peripécias que protagonizou nos últimos anos - tem 93 anos - fizeram com que a recente entrevista onde disse que não poderia votar em quem o "tanto" o "atormentou", referindo-se ao seu partido, tivesse destaque nos media internacionais.

Ao não apoiar o seu partido, alguns dos seus escassos apoiantes poderão votar no MDC, o maior partido da oposição, mas analistas já admitiram que este apoio de Mugabe pode ser um presente envenenado por causa do ódio que o velho político grangeou nos últimos anos, quando se espalhou a crise pelo Zimbabué, onde a fome, num dos celeiros de África, atingiu milhões de pessoas.

Entretanto, no país, segundo os relatos da imprensa de Harare, os mais de cinco milhões de eleitores estão hoje a votar de forma tranquila e com dois principais concorrentes à Presidência: Emmerson Mnangagwa, que assumiu o poder após o derrube de Mugage, em Novembro de 2017, condicionado pela realização de eleições num curto espaço de tempo, e Nelson Chamisa, o líder do MDC, partido do histórico Tsvangirai, falecido há meses.

Se Mnangagwa, com 75 anos, aparece no boletim de voto com a carga histórica de ter sido, desde a independência, em 1980, um dos homens fortes do regime de Robert Mugabe, apenas afastado da Vice-presidência semanas antes do golpe de Novembro devido a tricas palacianas lideradas pela mulher do "chefe", Grace Mugabe, num intrincado jogo de poder, o seu mais forte opositor, Nelson Chamisa, mais jovem - tem 40 anos - incorpora o sentido da mudança num país empobrecido pelas políticas desastrosas, tanto socialmente como nas áreas económicas.

Para além destes dois candidatos, os mais destacados, segundo as sondagens, estão ainda na corrida Ambrose Mutinhiri da Frente Patriótica Nacional, Thokozani Khupe, vice-primeira-ministra do Zimbábue de Fevereiro, Noah Manyika do partido Construir a Aliança do Zimbábue, Dumiso Dabengwa líder da União do Povo Africano do Zimbabué (ZAPU, na sigla inglesa), Elton Mangoma da Coligação de Democratas (CODE, na sigla inglesa), Joice Mujuru do partido Coligação Arco-íris do Povo e Nkosana Moyo da Aliança para a Agenda do Povo.

O vencedor será escolhido por maioria de votos num sistema que prevê as duas voltas.

Angola lidera a missão de observação eleitoral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e tem no país, para esse efeito, o secretário de Estado para as Relações Exteriores, Téte António.