Com quem ele não cruzava mesmo, era com a sua antiga manada de elefantes. E assim deixou de ver a sua família. Ficou sozinho, mesmo quando estava com outros animais.

Um dia, o elefante decidiu fazer uma última aventura. Quis subir ao pico do morro mais alto. E assim fez. Felizmente, naquela região, os morros, apesar de altos, não tinham escarpas, ou encostas muito íngremes. E o elefante podia ir caminhando, alimentando-se das folhas das árvores por que passava, e, de vez em quando, fazendo soar a trombeta que tinha dentro de si, para anunciar ao mundo essa sua última viagem. Subiu e subiu, até que atingiu o ponto mais alto. Era o fim da tarde. Procurou o sol, e viu-o pôr-se, vestindo o horizonte das cores mais belas. Os tons de vermelho e ouro foram inundando o dorso bojudo das nuvens, até se espraiarem por todo o firmamento. Deixou que o negro da noite fosse tomando conta da paisagem, viu nascer a lua, e dormiu.

No dia seguinte, com os primeiros alvores da madrugada, acordou e assistiu ao espectáculo do renascer do dia. O sol apareceu envergonhado do lado oposto do mundo, espreitou, pediu licença, e foi subindo, pé-ante-pé, iluminando tudo à sua volta, acordando, para a vida, toda a floresta. As aves cantaram, as folhas das acácias abriram, e todos os animais se espreguiçaram. Um galo perdido, numa aldeia no meio da floresta, gritou o seu cocoricó, com que procurou fazer com que os homens se integrassem no espectáculo da natureza.

Os homens, pensou o elefante, são o principal perigo para a floresta.

Com o sol no alto, a paisagem iluminada, o elefante observou em seu redor, bebendo cada pormenor, guardando cada cor, cada som, cada movimento. Elevou a tromba para sentir cada cheiro. E depois, abanando as orelhas, já nostálgico, começou a descer o morro. Lento, percorreu a sua gólgota até bem ao centro da planície.

Escolheu um lugar, onde não se sentisse apertado, sentou-se e elevou as patas dianteiras. Esticou a tromba bem na direcção do céu. As patas traseiras enterrando-se profundamente no solo. Olhou, uma última vez para o sol, e fechou os olhos. Plantou-se.

Com o tempo, poderosos ramos começaram a nascer do seu corpo. Folhas inundaram-nos. Uma árvore imponente se formou. E assim nasceu o primeiro imbondeiro.

As múcuas são lágrimas solidificadas, que o imbondeiro verte, quando, com a sua memória de elefante, se recorda do tempo em que a floresta fervilhava de vida e tinha futuro.