Os dados revelados pelo secretário de Estado da Economia, na semana passada, sobre os gastos com a importação de alimentos provocaram algumas ondas de choque. O que foi dito é que Angola importou 130 milhões de dólares de produtos da cesta básica por mês nos dez primeiros meses de 2019, o que permite inferir que a importação total de alimentos é bastante superior. O governador do BNA referiu várias vezes que o gasto de divisas com a importação de alimentos havia sido de 250 milhões por mês em 2018 e, digo eu, em anos anteriores, esse valor havia chegado a ultrapassar os 330 milhões. Naquela altura, dada a inércia então existente, a sociedade não reagiu como agora.

Ainda é muito cedo para se perceber se as medidas do Executivo para diminuir as importações estão a resultar. Mas pode já concluir-se que a sociedade está mais atenta e preocupada, fruto da maior abertura política, que permite mais e maior consciência dos problemas que nos afligem, e isto começa a ter reflexos no modo como se encara a agricultura.

É inegável que existe um optimismo generalizado e, em particular, uma nova visão sobre a importância da agricultura familiar e a correspondente prioridade que lhe deve ser atribuída. Mas isto não significa que as mentes e as práticas tenham mudado. O contravapor relativamente à importação de alimentos é preocupante. E não me refiro apenas aos produtos agrícolas. Nas ementas de certos restaurantes de Luanda, continuamos a encontrar pratos de peixes e mariscos originários de Portugal.

A orientação estratégica para apoio à agricultura familiar está a ser fortemente contrariada. Temos visto a canalização de recursos financeiros e do recurso tempo dirigidos generosamente a agricultores empresariais e muito pobremente a agricultores familiares. Isto explica-se porque as mentes de muitos governantes e altos funcionários ainda não se adaptaram aos novos tempos de carência de divisas.

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