Mas antes da despedida, o calor húmido e sufocante de Abril, responsável por rios de suor cocegarem as curvas da felicidade de uns e as costas esqueléticas de outros, está prestes a dizer até já. Vai fazer uma pausa pedagógica. Pelo menos até os efeitos das alterações climáticas decidirem prolongar um pouco mais a nossa estação seca, minguando o Cacimbo. Ainda não é um facto, nem fake news!
Para alguns o sentimento é duplo. Se por um lado o calor de Abril é também o culpado por muitas alterações de humor e por obrigar ao consumo maior de combustível e energia, para quem ainda pode, de modo que as pessoas se possam refrescar, por outro lado, é este clima que permite, aos cidadãos que vivem ao longo da costa, desfrutar do mar, do convívio ao ar livre junto à praia. Isto quando as enxurradas de plástico não impedirem o usufruto deste bem maravilhoso. E, só em Angola, há milhões de pessoas que nunca viram, nem vão ver o mar. É um facto, not fake news!
É bom ou não este calor abrasador? Se calhar, para um funcionário da construção civil a construir casas ao meio-dia no Zango, a perspectiva é diferente quando comparada com um local de relaxe com uma piscina que (sobre)vive de clientes ávidos de um dia calorento que encoraja o consumo de certos produtos. Gelados para os candengues, refrescos para os adolescentes e estupidamente geladas para os mais crescidos. Tudo isto socialmente construído e alimentado por uma poderosa máquina de marketing. É um facto, not fake news!
Do mesmo modo, no Cacimbo, para uns é um bom intervalo do longo verão que permite retemperar as energias e também tirar umas roupas mais quentes guardadas nos armários polvilhados de naftalina. Aquele cheiro forte de humidificar os olhos e travar a respiração. Para outros, o frio esfria o negócio, invoca a preguiça e atrapalha a vida. Para a massa estudantil, é sinónimo de pausa, com alegria para os que passaram e tristeza para os que reprovaram, ou melhor, os que ficaram retidos. Mais um eufemismo socialmente construído para não baixar a auto-estima. É um facto, not fake news!
As vantagens de um são as desvantagens de outros. As perspectivas dependem de vários factores que moldam a nossa visão de mundo e interpretação da realidade. Cada um constrói a sua realidade, o seu consenso. Certamente não haverá consenso sobre qual época é a melhor. Da mesma forma que as opiniões divergem sobre quem faz falta ao País, sobre a manutenção ou não dos concursos de beleza, sobre os ajustes directos, sobre o novo aeroporto, sobre o alambamento, etc. São factos, not fake news! Depois há as opiniões. E há muitas erradas.