O motivo da confraria não poderia ser melhor. O regresso à sua amada Angola do antigo Presidente da Federação Angola de Basquetebol, o Carlos Teixeira "Cagi", uma figura de distinta referência do dirigismo desportivo angolano, após longos 18 anos a residir na distante Austrália.
Segredou-me o Eduardo Baptista "Moscavide" que o homenageado Cagi pertence a uma das famílias mais mediáticas do desporto angolano entre os anos 60 e 70 do século passado.
O seu irmão mais velho, Zezé Teixeira, chegou a ser considerado o melhor jogador de voleibol da Angola do seu tempo. Logo a seguir aos mais kota, o nosso Cagi, que foi atleta da modalidade do atletismo, tendo sido recordista da então província de Angola dos 100 metros, tendo se notabilizado igualmente como um exímio praticante de basquetebol no Sport Luanda e Benfica e no CDUA.
A seguir ao Cagi está o seu irmão Jorge Teixeira que foi igualmente um belíssimo jogador de basquetebol que vestiu as cores do Benfica e do CDUA. A mais velha entre as meninas, Carla Teixeira, jogou igualmente basquetebol pelo Sport Luanda e Benfica e foi campeã de Portugal em representação deste clube Luandense e, por fim, a cassula, Gabriela Teixeira "Gaby", que também jogou basquetebol no Sport Luanda e Benfica.
À volta daquela mesa tão bem frequentada por um verdadeiro dream team, especialmente convocado para o efeito pelo bom Pedro Godinho, estiveram alguns dos contemporâneos do Cagi pelas andanças da vida desportiva como o Rogério Silva, o Gustavo da Conceição, o José Augusto Junça, o Hilário de Sousa, o Mário Rosa de Almeida, Bi Figueiredo, o Tony Sofrimento e o Paulo Madeira, que chegaram já perto do final da contenta.
A conversa fluiu e falou-se sobre alguns dos momentos mais sublimes, como diria o jornalista Silva Candembo, do nosso desporto. Como podem imaginar, foi um êxtase total para todos e para mim então, que era o mais novo do conjunto, um momento para reservar eternamente entre os maiores prazeres da vida.
Como bem disse o Mário Rosa de Almeida na sua crónica "ponto de vista, visto ponto a ponto" naquele turbilhão de emoções provocado pelo repristinar (perdoem-me o palavrão, mas é mesmo o que me ocorre) de momentos e factos tão marcantes da história do nosso País, o nosso Cagi a dado momento chegou mesmo a dizer que aquela tertúlia, para ele, tinha o mesmo valor da medalha que acabara de receber por ocasião dos 50 anos da nossa Dipanda.
O antigo Presidente do COA, Gustavo da Conceição, pelo seu dom natural, foi pautando o ritmo das discussões e definindo a pauta da maioria dos temas. Retive as memórias partilhadas pelo Rogério Silva sobre o nascimento do Comité Olímpico Angolano, sobre a nossa primeira conquista em basquetebol no escalão de juniores em 1980, sobre os jogos da África Central que aqui decorreram em 1981 (e os contornos da nossa transição da zona IV para a VI, anos mais tarde), sobre a nossa primeira medalha de ouro em seniores masculinos conquistada na cidade de Nairobi em 1987 e frustrante derrota na meia-final frente ao Mali no Afrobasket do mesmo ano em Túnis, sobre o ouro que finalmente caiu nas nossas mãos aqui em casa em 1989 e o jogos olímpicos de Barcelona 1992 em que fomos a primeira equipa a defrontar o "dream team" dos Estados Unidos, para além de termos derrotado a super favorita e anfitriã Espanha por expressivos 20 pontos de diferença.
E lá se foi passando a uma velocidade meteórica a funjada da saudade dedicada ao Cagi, com outras memórias a ressurgirem como raios repentinos das mentes brilhantes dos presentes. O Mário Rosa de Almeida fechou as hostilidades, retratando-nos os momentos vividos no hotel em que estavam hospedados aquando do episódio da bomba que foi deflagrada em plenos jogos olímpicos de Atlanta, Estados Unidos, em 1996.
Ficaram muitas coisas por se dizer, momentos por se reviver, sabores por se degustar. O tempo é curto e saltitante como os cangurus lá da terra onde está o nosso querido e terno Presidente Cagi, a Austrália, mas ficou o repto de sistematizarmos todo este acervo e registá-lo para a posteridade em livros e também diversas formas que a evolução tecnológica hoje nos permite e que de forma mais apelativa a mensagem é absorvida pelas novas gerações.
As palavras finais são de mais profundos agradecimentos e felicitações ao homenageado, o nosso Cagi, pela sua extraordinária dedicação à causa do desporto angolano, com marcas e conquistas absolutamente indeléveis (entre as quais a conquista de quatro Afrobaskets em seniores masculinos) e por ser uma figura consensualmente querida e venerada por múltiplas e distintas gerações de desportistas angolanos.
*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga