Mas, este controlo-remoto ou comando obriga-nos, muitas vezes, a fazer um interessante «exercício diplomático» para estabelecer horários de gestão de tal ferramenta nos nossos lares. Os mais novos dominam e comandam tudo, conseguindo impor certa autoridade sem ser autoritários. É uma espécie de exercício «ditatorial» de apropriação de um «bem colectivo do lar», estabelecem, através deles, uma relação com o seu novo mundo, com a imaginação e até arranjam esconderijos para evitar que alguém se aproprie do seu objecto de estimação. Comandam, impondo uma espécie de ditadura do comando.

Numa abordagem mais ampla, e olhando para a realidade do País, começa-se a ficar com a ideia de um certo «centro de comando» que procura impor uma nova ditadura na comunicação social. Uma imprensa plural, livre e independente é fundamental para a afirmação e ampliação do campo democrático. É importante que hoje se criem condições que protejam o ambiente jornalístico, que se fortaleça o exercício da actividade e se combata a precariedade, que se denunciem as formas veladas e camufladas de condicionar a liberdade de imprensa, que se «trave» o apetite que os poderes político e económico têm em fazer dos meios de comunicação verdadeiros aparelhos ideológicos, máquinas de propaganda e de manipulação.

Ainda há, entre nós, certos poderes que têm medo que este chamado Quarto Poder tenha poder. Vão-se criando certas narrativas em torno de um pensamento único, em torno de uma máquina dominante. É um sistema que tem medo daquilo e daqueles que não controla; é um sistema que quer ditar regras e ser jogador num campo que não domina; é um sistema e «seres pensantes» que quer definir um novo futuro para o jornalismo, um sistema e uma cúpula que quer tomar de assalto o espaço mediático e definir agendas.

O Jornalismo deve e terá de ser sempre um espaço de liberdade e autonomia. Tem de ser capaz de agendar temas de interesse público e com valor noticioso. O Estado é mau gestor e lida mal com a liberdade de imprensa e dos jornalistas, por isso vejo, com grande preocupação, um cenário em que o Estado esteja a controlar órgãos de comunicação social privados, como foi, recentemente, com o Grupo Media Nova, que detinha a TV Zimbo, a Rádio Mais e O País. Não é bom para a pluralidade, liberdade, isenção e transparência.

Qual é a necessidade de o Estado querer concentrar, ter sob seu controlo, tanta comunicação social? No caso do Grupo Media Nova, que garantias oferece que, enquanto dono, não vai interferir na sua linha editorial, se sempre o fez com os órgãos que controla ou controlou? E depois dos 120 do exercício das tais Comissões de Gestão, quem garante a transparência e lisura na transferência ou venda para os futuros donos? Obviamente que não é possível gerir órgãos ou liderar jornalistas em pleno século XXI, com métodos e rotinas do século passado. A liberdade e pluralidade de imprensa são um importante barómetro para a afirmação da nossa democracia, e esta situação da Media Nova hoje, da Zap amanhã e de outros grupos privados depois, é mau para a credibilidade e a confiança nos órgãos e até a imagem do País. Hoje, nas redacções, o questionamento dominante é: O que o Estado quer para o Jornalismo em Angola e o que quer dos jornalistas?

Muitas vezes, fica a ideia de que somos geridos por uma espécie de «Ditadura do Comando», em que existem grupos que, tais como os mais novos, têm em mão um comando e olham para o País como a sua televisão e aí definem as agendas, definem o que deve ser visto pelos demais. Existindo mesmo os donos do comando e os comandados. É preciso estarmos atentos e vigilantes. O Jornalismo faz-se estando, faz-se questionando, faz-se mantendo a sua liberdade e independência. O Jornalismo faz-se com jornalistas, faz-se com Jornalismo activo e em defesa do interesse público, em defesa da liberdade e pluralidade, pois quem dorme em democracia pode acordar em ditadura.