A expressão "diplomacia do croquete" atribuída ao ex-primeiro-ministro português Durão Barroso ia ao encontro da ideia generalizada na altura de que os diplomatas portugueses passavam muito tempo em cocktails a beber champagne e a comer croquetes e que era importante investir-se na diplomacia económica para atrair investimentos para Portugal. Era preciso mais acção, ousadia e criatividade por parte dos diplomatas, era o desafio da altura. A diplomacia é o contrário da inércia, ela é o risco da acção e não coacção, ela é paciente, não impõe, convence. Hoje a diplomacia económica permite aos diplomatas saberem precisamente qual a sua missão nos países onde estão, para além daquilo que é a chamada diplomacia representativa.

Tradicionalmente, as nossas embaixadas e consulados ainda não estão vocacionados para a diplomacia económica, e há necessidade de se criarem sistemas modernos e eficientes que contrariem a ideia de se olhar para as embaixadas e consulados meramente como fiéis e dignos patrocinadores de festas e almoçaradas para animar as comunidades ou actividades das estruturas partidárias privilegiadas (MPLA, OMA e JMPLA). Elas não são lojas ou armazéns de fornecimento de produtos de cesta básica, centros de caridade ou agências de organização de eventos. São espaços públicos multifuncionais suportados com o dinheiro dos contribuintes, pelo que devem servir os interesses nacionais e não interesses pessoais, corporativos ou de grupos.

O conceito de diplomacia económica deve ser estudado e explicado. Há muitos diplomatas angolanos que ainda confundem o processo de promoção da imagem do país, de atracção de investimentos, de negociação de contratos relevantes para o desenvolvimento económico, humano, social e cultural para o país com o ser negociante, agindo muitas vezes em nome do Estado, mas no interesse particular.
Somos uma nação com uma imagem ainda muito difusa, negativa e pouco apelativa no exterior. O passado de corrupção, nepotismo, impunidade, desvios de riqueza ilícita também não ajudou muito, embora se assista a um compromisso da nova governação contra tais práticas nocivas. A política externa angolana e os esforços do Executivo angolano em matéria de diversificação da economia, atracção de investimentos, desenvolvimento económico, cultural e social não se vêem, não se sentem no quotidiano de muitas das suas comunidades espalhadas pelo mundo. Não actua junto delas, daí que defenda que faz falta também uma diplomacia ao serviço da diáspora.


A diplomacia económica pode funcionar a duas velocidades: atraindo para o país investimento privado estrangeiro e o investimento de angolanos no estrangeiro. Se em Portugal ao tempo do Governo de Durão Barroso havia a "diplomacia do croquete", no caso de Angola ainda temos aquilo que tenho vindo a chamar de "Diplomacia da Farra Rija". Gostamos do bom e do melhor, mas não é tanto pelo prazer de usufruir. É mais pelo gozo de ostentar e pela necessidade de sacar algum para os bolsos.

Há um elemento de prestígio, há uma imagem de dignidade e até mesmo de bom senso que, actualmente, não se compadecem com certa ostentação, desperdício e esbanjamento. Há juízos que só o tempo amadurece e muitos diplomatas angolanos ainda não perceberam que o legado que deixaram ou vão deixando é o de organizadores e promotores de farras. Cada tempo tem o seu tempo e o tempo hoje é para outra postura, gestão e atitude. Confesso que continuo a não gostar desta diplomacia que usa a farra rija, porque é fútil, é ridícula, sem estratégia e prejudicial à imagem do país.

Há duas semanas, a jornalista Luzia Moniz escreveu no NJ um artigo intitulado "A Diplomacia da Máscara", e nesta edição o político Jardo Muekalia assina o texto "Angola e a sua diplomacia", em que analisa e aponta caminhos para a tão propalada e almejada diplomacia económica, motivo para que "recupere" os alertas sobre uma insustentável diplomacia da farra rija. O novo tutelar do MIREX, Téte António, tem a espinhosa missão de implementar e fazer vingar a diplomacia económica, que o seu antecessor, Manuel Augusto, por falta de estratégia, visão, foco, objectivo, suporte técnico e certo apoio institucional, "desconseguiu" implementar.

É altura de Téte António começar a fazer um "tête-à-tête" com o MIREX das makas mil e colocar "farristas" e " showistas" no caminho da verdadeira e pura diplomacia.