Urge reflectir sobre esta temática no contexto africano, com o principal foco em Angola, com todos os discursos e consequências que poderão surgir para esta nação.

Assim, tenho de começar por evidenciar a 49ª reunião do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas encarregue das Questões de Segurança na África Central (UNSAC) no passado mês de Novembro, realizado em Luanda. E porquê? Devido à inclusão do tema na agenda dos líderes em questão. Mais do que falar em "ambiente", há que falar em "segurança", porque é mesmo disso que se trata.

Recentemente, a organização Save The Children evidenciou os dados alarmantes e trágicos, mas já esperados: mais de 1200 pessoas morreram este ano na África Austral e Oriental em desastres naturais associados às alterações climáticas. O impacto do clima deixou de ser algo utópico ou muitas vezes entendido como distante da actualidade; é, com toda a certeza, uma ameaça à estabilidade politica, económica e social dos Estados.

Neste contexto, é importante recordar que em Abril deste ano, em Angola, foi activado um pacote financeiro de, aproximadamente, 200 milhões de dólares "para solucionar problemas estruturantes" ligados aos efeitos avassaladores da seca no sul do país, principalmente nas províncias do Cunene, Cuando-Cubango, Huíla e Namibe.

A questão na génese do problema não está no "como mudar", que isso é óbvio e já está mais do que estudado, mas sim no "como encontrar soluções para as consequências da mudança".

Como vai a comunidade internacional mobilizar países como Angola, cuja economia é baseada na exportação de combustíveis fósseis? A economia angolana tem recursos para suportar tamanha mudança? Terão as principais empresas angolanas alicerces suficientes para moldar o seu paradigma às condições alarmantes?

Estas são questões que têm de ser respondidas, e não podem ser respondidas apenas pelo governo angolano. Angola é hoje um dos maiores produtos de todos os erros cometidos pelo ser humano durante vários anos, um dos países com maior vulnerabilidade a todos os riscos catastróficos iminentes. Por isso, é necessário encontrar soluções incisivas, rapidamente.

Claro que é não é possível solucionar um assunto desta dimensão apenas no "nosso quintal". Mas a mudança, bastante complexa, tem de partir dos Estados, das comunidades locais. E em Angola há muito a fazer... Em primeiro lugar, tem de passar por um vector primordial: a educação - chamar a população angolana à realidade (sobretudo os jovens angolanos), do risco que todos correm devido às questões climáticas, é o início de um longo caminho. Incentivar gradualmente, com benefícios fiscais, a mudança para energias renováveis e punir as empresas que contribuem para a calamidade faz parte da trajectória necessária. A criação de espaços verdes, como prometido pelo governo, é aconselhável para tornar o ar mais respirável (literalmente). E não nos podemos esquecer da imperativa estabilidade política e diplomática que é necessária para a busca de auxílio imprescindível à comunidade internacional (criação de cada vez mais fundos de investimento para esta causa), com especial foco diplomático nos principais parceiros comerciais e políticos, nas Nações Unidas e na União Africana.

Basicamente, trata-se de promover o diálogo entre todas as partes envolvidas, sejam elas as organizações e empresas, a população e o governo, aumentando a confiança e a entre-ajuda de todos e entre todos.

Não se trata de um diálogo do governo de João Lourenço, de Angola ou de África. Este é um diálogo de todos. Trata-se de uma situação que prejudica qualquer pessoa, país ou organização. É urgente a mudança! Mas pode começar no nosso quintal...