O que fizemos no pós-independência foi agravar a situação. Não só deixámos continuar a surgir bairros sem que houvesse planeamento que introduzisse nos mesmos as necessárias áreas de parques, como diminuímos as parcas áreas verdes outrora existentes, e, nos bairros planeados, que até previam esse tipo de área, deixámos que as mesmas desaparecessem, cedendo-as para construção, ou deixando que as mesmas fossem anarquicamente ocupadas.

O nosso horror aos espaços vazios foi tanto (roubando uma expressão usada por Pepetela numa crónica que pretendia alertar para este problema, há uns anos), que permitimos não só a ocupação das zonas verdes como dos raros parques de estacionamento que havia pela cidade mais urbanizada.

Mas façamos um inventário: a zona verde do Miramar, mesmo estando nas barrocas, foi deliberadamente amputada, não só permitindo que estruturas públicas e privadas ali se implantassem, como se cedeu parte da sua área para a construção de um hotel; no Alvalade, para além da cedência de uma parte para aumentar as áreas das residências que com ele confluíam, um dito "projecto turístico" ocupou outra área, sem projecto, nem turismo a funcionar, uma estrada a passar pelo parque, e uma zona completamente descaracterizada como resultado; a floresta da ilha dá pena, nem sei que dizer. Quanto aos parques, é um desastre: o que havia na ilha, junto ao Naval, foi dos primeiros a ser ocupado, para dar lugar a um salão de festas; o do antigo cinema Avis/Karl Marx foi ocupado para a construção de um enorme mamarracho, completamente fora do padrão de construção da zona; o da Biker, como se fosse necessário aumentar a já enorme densidade de edifícios da Baixa, idem; o da antiga Fazenda, hoje Ministério das Finanças, foi o local escolhido para mais um edifício de muitos andares, exactamente para o Ministério das Finanças; o do Kinaxixi, atulhado com construção, para se juntar ao crime da destruição do reverenciado Mercado. E isto só para falar nos casos mais evidentes.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)