Na ressaca deste naufrágio, estamos agora, a pele e osso, perante a tormenta de estragos que, afinal, foram meticulosamente estudadas com décadas de antecedência.

Estragos que foram cuidadosamente preparados, oleados e ensaiados em máquinas de calcular especialmente encomendadas para fazer contas de subtrair ao... Estado.

Foram tão bem preparados que, já poucos se lembram, mas, aqui há alguns anos, por entre as misteriosas paredes do Palácio, ecoou esta célebre frase: "isto tudo vai ser nosso"!

Lubrificadas as mentes indígenas, Mobutu, Denis Sassou N"Guessou, Paul Bya, Teodoro N"Guema e outros comparsas com mais ou menos tiques ditatoriais, levando várias voltas de avanço, passaram a dispor aqui de um laboratório ideal para proveitoso estágio.

Com o império por aqui nas mãos de divina clique, "isto tudo, na verdade, passou a ser deles"! Temporariamente deles.

Até ao dia em que, em vésperas de um novo ciclo, nas barbas de um novo candidato ao trono, a parte de leão do bolo, foi entregue de bandeja aos herdeiros da coroa e seus apêndices.

Até ao dia em que, instituído o jogo de espelhos, depois de ter driblado tudo e todos, subestimando o sucessor, José Eduardo dos Santos acabou por fintar-se a si próprio e por marcar, no último minuto, um auto-golo que viria a ser irremediavelmente fatal para o resto da sua carreira política.

Até ao dia em que, perante evidentes sinais de refinado autocratismo, os cidadãos, cansados de insuportável enxovalho, começaram a pôr em causa um sistema que havia enjaulado a justiça, entortado o Estado de direito, degolado o mercado e asfixiado as liberdades democráticas.

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