Ainda tenho em mente a imagem da mãe da Flora, dirigindo-se a mim, no engarrafamento do Largo da Independência, a pedir esmola.

Desde logo, fiquei com a convicção de que deveríamos sentir vergonha de termos um país tão rico mas pobremente administrado, isto é que explica o nível de pobreza e desigualdade social que hoje temos. Vai ser preciso muita determinação para mudar este quadro.

Uma semana depois, soube que antes de aparecer no Largo da Independência, Flora e a sua mãe haviam sido hospitalizadas, devido aos problemas de saúde da Flora, por isso se encontravam na rua apelando por ajuda financeira, dos familiares, amigos e de quem pudesse ajudar.

Até à altura em que me cruzei com elas, não haviam colectado os 25.000.00 Kwanzas, que estimavam ser necessários, para pagar os custos relacionados com a saúde da menina.

Hoje soube através de um amigo que infelizmente Flora foi-se. Morreu!

Independentemente do que virá a constar do relatório da autopsia, eu penso que dentre as causas da sua morte constam os problemas ligados à corrupção e à dureza do coração de todas as pessoas que podendo ajudar, não o fizeram!

Quisera eu, se tivesse poder de influenciar a família da Flora, escrever na sua tumba, o seguinte: " Aqui jaz uma das muitas vítimas das desigualdades económicas e sociais no nosso país", pois o que estamos a chamar de crise económica em Angola, é nada mais, nada menos, do que um período de redução do nível de produção, da comercialização e do consumo de produtos e serviços, devido por um lado à redução do preço do barril do petróleo, no mercado internacional, e por outro, a gestão danosa do erário público.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)