A jovem trabalhava como empregada de limpeza num ginásio, na cidade de Luanda, mas, devido à pandemia, o Executivo decretou a suspensão de uma série de actividades económicas, e Joana perdeu o emprego, já que o ginásio teve de encerrar e o seu proprietário não tem como continuar a pagar os salários.

Vive num bairro periférico que, pela proximidade com a praia, até bem pouco tempo lhe oferecia oportunidade de obtenção de rendimentos, dado o número de pessoas que frequentavam a zona, em busca de lazer. Mas, o número de frequentadores do local diminuiu significativamente, numa primeira fase devido à Covid-19 e agora, mais recentemente, à chegada do cacimbo.

A mãe de Joana, uma senhora idosa de aproximadamente 68 anos, vive basicamente de trabalhos informais em torno da realização de serviços, como a venda de bebidas e alimentação para as pessoas que, a título de lazer, frequentavam a zona, porém ficou sem essa opção. Como tantas outras pessoas, ela, a mãe e os seus filhos teriam de depender de iniciativas filantrópicas que lhes poderiam dar auxílio para sobreviverem com dignidade, mas sabemos que nem todos conseguem ter acesso a tais benefícios.

O coronavírus veio causar uma crise sanitária que acontece de modo simultâneo com uma crise económica e social, expondo as profundas mazelas de muitas opções feitas, em relação ao modelo de desenvolvimento económico, político e social do país durante a fase do "boom do petróleo". Para além da perda de ingressos que tem levado muitas famílias mais vulneráveis a regredir para baixo da linha da pobreza, Angola depara-se com sérios riscos de que a produção e/ou distribuição de alimentos venha a ser afectada, sem falarmos do efeito devastador que a pandemia está a causar no nosso sistema de saúde.

Num contexto marcado por gritantes desigualdades, entre os cidadãos angolanos, para algumas pessoas, lavar as mãos e ficar em casa é suficiente para se proteger, mas como fica a maioria das pessoas que vivem nas zonas rurais ou nas periferias das cidades, que não têm acesso à água potável ou que precisam da renda gerada a cada dia para sobreviver?

Como a proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) Revisto, apresentada pelo Executivo na Assembleia Nacional (AN), pretende ajudar estes nossos concidadãos? Como a actual proposta de OGE prevê atender a situações semelhantes à de Joana? Como pessoas pobres e em situação de vulnerabilidade, como a Joana, poderão sobreviver à pandemia e criar os seus filhos, se não tiverem a necessária ajuda? Irão estas pessoas e os seus filhos conseguir sobreviver? Como isso será possível?

Deveríamos todos e todas estar muito preocupados com a sorte dessas famílias. Desde o início da pandemia, as autoridades deveriam dar conta do que se está a fazer, para que as populações mais frágeis, vivendo em áreas extremamente precárias, possam proteger-se da Covid-19. Sei que algumas coisas estão a ser feitas, mas será que é o máximo que se pode fazer?

Nalguns países, as autoridades criaram uma espécie de «Fundo de Emergência Covid-19», com o objectivo de, no mínimo, assegurar o acesso à alimentação ou receitas financeiras para as famílias em vulnerabilidade, durante estes difíceis meses. Com o orçamento revisto, presente na AN para a sua aprovação, conseguiremos ajudar essas famílias a terem o que comer e como se proteger durante esse momento crítico?

Sem dúvidas, a pandemia está a agravar as desigualdades no país, e reverter esta situação exige esforços em todas as frentes. Estas pessoas precisam, mais do que nunca, de ajuda. Será que poderão contar com o apoio dos deputados e das deputadas a quem cumpre o dever e a responsabilidade de votarem para escolher que tipo de OGE vamos ter?